não estou privado do que é ruim
tenho isso arquivado em meu corpo
junto, sim
não me privo do corte
da falta de sorte não me privo
do desastre que faz o vento
sobre os pêlos
privo-me, primeiro
dessa vida comedida
que atravessa a rua segurando as sacolas
com medo do sequestrador
na outra esquina
não me privo do jogo
dou-me nele por completo
não me privo do abjeto
sinto-me pleno
o sujo sinaliza o que pode haver
de sublime
em mim
privo-me, segundo
do banho-maria
do banho-joão
ninguém é plenamente comida
para ter o peito assado
o corpo frito no fogo dilacerado
para depois
degustação,
não.
privo-me, sobretudo
da sua falta de opinião
do seu silêncio em vão tentando
classificar a dor do cancro
classificar o nó no encanto
que sua voz perdeu faz tempo
do seu silêncio disfarçado em ideologia
da sua crônica doença apatia
da sua tentativa de revolução
fosse vanguarda verbete acessível
a quem exala corrupção.
privo-me sim
privo-me não
a parte do meu todo clama desejo
alguma outra pede moderação
não me privo nunca porém
da confusão genuína no coração
da confusão por nunca saber se
privei-me foi por medida
ou por autocomiseração.
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