Sabe, crianças
Vocês existem por mim
Por isso dói tanto toda vez que vocês precisam de mim partir.
Eu os fiz para o meu prazer,
Mas é no recreio de cada dia
Que asas novas em vocês se procriam
E todo o meu prazer inaugural
Torna-se pouco diante do seu jogo
Sempre não-habitual.
Sabe, meus filhos
Vocês são a minha maneira de lidar com o mundo
A minha maneira de ir nele profundo
Para se perder
E me achar
E se doer para frisar na pele
Algo que me faça bastar.
Não se preocupem
Na ordem das coisas eu me vou
Primeiro que vocês,
Por isso não se assustem se na sua juventude
Eu já vejo tanto isso de morrer.
É que vocês vão durar mais tempo.
Vocês, de certa forma
Vão me ser
Quando eu não estiver aqui para responder
Por nós.
Sabe, crianças
Vocês me devolvem o mundo possível
Tamanha agilidade de seu brincar
Tamanha inconformidade em não aceitar
Quando eu digo
Já é tarde, não adianta mais procurar.
É quando então vocês adentram as noites
E me fazem perseverar.
Sabe que com vocês eu me emociono
E nisso descubro não me bastar,
Descubro agora de novo neste momento,
Que um abraço às vezes é tão preciso
Eu descubro como por vezes dói demais um silêncio,
sem o ruído dos seus passos entre a poeira da casa
deposta.
Sabe, meus filhos
Daqui a pouco é dia
E eu já nem sei
O que isso possa significar.
Tenho medo de torná-los mais reais
Mais possíveis
Eu tenho medo
Sabe, filhos?
Por isso há tanta
tanta
rima.
.
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