Existe um momento do entre
Que se dá na passagem da vida
Ao sono.
Segundos em que eu resvalo pleno
Sendo em mim mesmo o impossível
E o abandono,
A utopia do real
e o real transtorno.
Existe um momento em que vivo
Pleno
Entre as pendências da existência
E o ser vítima de um sonho
- nunca qualquer -.
Momento em que eu não me sou por completo
Em que eu sou eu
Mas ainda tenho outro contorno
Incapaz de definir minha dimensão
Onde nele os prantos são mais choro
Onde gritos recriam-se em canção.
Momento em que o futuro deste transtorno
Presente
É quase sempre mais impaciente que o corpo
Onde o futuro é sempre pouco
Ou insuficientemente
Louco,
Nisso eu ali resvalando
Na cama preso
Sobre a cama dançando
De um lado a outro
Indo e voltando
Sem entender que é em mim o transtorno
Sem entender que sou eu mesmo
O meu consolo.
Existe este momento
Em que se é pleno em meio à convulsão
Em que se procria ainda mais indecisão
E a vida amanhece amena
Porque no sonho aumenta-se tudo
Aumentam-se as incongruências,
E a vida amanhece amena.
Nenhuma dor é tão duradoura
Porque no sonho o tempo dilata
E as arestas do espaço te cortam
E os ponteiros das horas extravasam
Em você
A incompreensão do avançar.
A vida amanhece amena
Porque foi em sonho o seu remanejar
Os medos do dia-a-dia
As quinas perdidas nos móveis
A espessura dos gracejos
Tudo no sonho amanhece
Depois
Mais ingênuo,
Por isso vive-se tanto,
Pois é capaz de sonhar.
Existem esses momentos
Dos quais fazemos esforço
Para acordar,
Momentos dos quais
Desejamos
Mas tememos nos libertar.
Por completo,
Indiscreto
Deito novamente a face magoada sobre o colchão.
No íntimo reverbero uma alucinação
- sempre qualquer -.
É a vida
Desenhando em si mesma
Um sonho possível que a amorteça,
Desenhando em si mesma
A necessidade de um ou outro
monstro
Que a aborreça e faça ser
Isso que é,
Assim do jeito que é.
.
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