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quarta-feira, 18 de março de 2009

Cabana

- Com glicose direto no sangue não tem como não acordar.

Sinto a pele descobrindo os olhos. Diante de mim, família desesperada. O que foi que eu fiz, é a primeira culpa que me lanço. Tento rememorar os caminhos mas não chego até onde estou. Onde estou? Os olhos me dizem outro lugar. Onde estou que não me vi ser levado onde estou que não me fiz caminhar até ali?

Aos poucos, a imagem da pele sendo descoberta, da pele descobrindo os olhos e o corpo, da exposição. Sou eu sob a descoberta. Eu sendo revirado e exposto e exteriorizado. Não quero ser. Não querer não basta. Eu sou, neste momento, abertura, veia alcançada a custo, sou transitar de um soro sem fim que me traz para mim. Outra vez.

Sinto. Logo existo. E quando não sinto, o que sou de mim? Quando a pele não armazena os baques do corpo sendo retirado por um estranho qualquer, o que sou? Quando a cabeça bate nas portas de um táxi, quando eu me desacordo pleno numa maca de hospital, o que sou de mim quando sou, sem mim?

Presentifica este instante, mãe. Eu lembro de ter dormido e dito antes, Qualquer coisa me chama. Você devolveu, Qualquer coisa você me chama. Não chamei. Dentro, a sua proximidade bastava para morrer feliz, morrer grato. Morte teatral, morre-se um pouco mais a cada lapso. Eu morri um pouco. Mas só mais um pouco. Já estou de volta. De volta ao corpo que sente e agora é outro. É corpo passado. Corpo por mais outro atrito reverenciado.

Desespero meu profundo ao ter certeza, que aquilo que carrego de mim em mim mesmo é pouco diante daquilo seu que pode haver em meu corpo. Desespero ao perceber, tão ingenuamente louco, que somos um pouco mais do que sabemos ser.

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