sempre acorda em sobressalto,
como se o baque do corpo n'água
fosse o mesmo que o frio balde
na face adormecida.
o sonho acorda quando alguém nele morre.
por isso há sempre um gemido sobre a cama
porque perder alguém nem sempre é pouco
nem sempre é calmo pleno acaso
apenas coisa de sorte.
acorda o sonho quando morre nele,
um ente querido.
e você resta sobre a cama
meio de pé
meio impreciso
tentando avaliar
o porquê do sonhei aquilo
o porquê de certas coisas invadirem a mente
sem a necessidade de se explicarem.
você resta sobre a cama
pensa em Freud e na família
você resta impaciente
e agradece que o sono já saciado tenha rompido aquela ida
tão vertiginosa
tão precisa
rumo ao chocar do automóvel
no mar sem fim.
você relembra a fala de um ente
lembra de ter sido o único a dizer
eu amo vocês
você lembra esse tipo de coisa
e não sabe porque
não sabe o porquê.
amanhece
venta bastante
e o sonho conserva em ti uma presença
disforme
inconstante,
mas conserva
feito seu corpo a própria morada daquilo que agora no sonho
já era.
...
acordo...
preciso. não vou ligar para ninguém
não vou indicar modos de se operar a vida
acredito que em sonho digerimos o horror de estar vivo
para acordamos sempre saciados
de nossa perenidade.
acredito em sonho
porque ele desenha o impossível mais pleno
ele desenha o medo com contorno vivo
tudo é plano
mas capaz de ver
eu vi os seus olhos
eu toquei em você
e se acordo no vazio
é porque no sonho algo além é possível
e se acordo no vazio
é porque na vida certas coisas estão para não serem vistas
porque quando o olhar cessa
enxergamos mais e melhor
mais e sem fim
sem o olhar somos capazes de tocar
e tudo é plano
e capaz de cortar
tudo é pleno
e capaz de morrer
amar voar.
.
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