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segunda-feira, 15 de junho de 2009

abandono

Eu sou alguém fácil de deixar. Você não precisa sofrer tanto assim. Sofra lá na frente, por outro motivo, por mim já não vale a pena. Eu morro tão fácil e por coisas tão pequenas, que talvez o mel que acabou me faça chorar tanto quanto o fim do nosso encontro. Eu compro outro mel eu me dissipo noutro corpo. Mas você, você tem que se cuidar. Eu sou alguém fácil, de verdade, de se deixar. Não quero culpas, quero algo concreto feito o último café da manhã que tomamos sob um mesmo teto. Agora acabou. E esse tipo de coisa acaba mesmo. Como a fruta que se come olhando o sol numa sacada e acaba, por tanto desejo, escorrendo e sendo suicidada. Do alto do prédio cai o desejo num só instante e não resta mais nada, exceto um desejo indo se perder aqui dentro. Guarde esse gosto, guarde-o, aí dentro. Um dia você come algo por cima e faz o gosto se perder. Talvez por entre os dentes algum pêlo meu você vai encontrar e quem sabe assim, de mim possa se lembrar seu sofrer. Como eu fosse uma manga já toda comida. Como eu fosse algo com casca, íntimo e semente ressequida. Você me comeu, deixou-me só aos caroços. Eu sou alguém fácil de deixar, pois tão rápido me recrio de novo. Vá. Eu morrendo nasço outra vez. Não! Não tente me levantar. Estar no chão é o primeiro estágio para de novo vir a ser. Eu sou alguém fácil de deixar, agora vá, deixe que noutra hora você venha a ver um gosto sinônimo ao meu te cruzando na esquina. E, quem sabe, possa até você mesmo perceber. Que o novo gosto que você gosta, fui eu quem fez para você. Fui eu quem fez.
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