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domingo, 21 de junho de 2009

E então foram os corpos.

No primeiro acorde o que saltou foi a pele. Os pêlos em protesto diziam eu te amo, mas temo, temo sim muito temo o que o nosso contato pode fazer nascer. Disso o que veio eu nem sei te dizer, mas foi tão preciso, tão concreto, que o choque indiscreto dos corpos no meio do quarto era o tudo e o nada se encontrando, era o profano e o sagrado se acariciando. Havia uma tristeza solene nas formas dançando e virando e hora sou eu aqui e você nesta parte de mim e hora sou eu aí onde o seu braço me envolve em ti.


Na segunda nota, o piano fez-se em corpo e fui eu perdido me encontrar absorto na pele lisa meio branqueada, como se fosse eu pincel numa estrada desesperada, plena de desejos, já exposta na sacada querendo se possível voar. Eu toquei o piano, eu toquei o piano e o que veio depois eu nem saberia dizer porque tudo já nasce morrendo e descrever-te é te perder, para o mundo.


No terceiro verso, um gemido profundo, cabendo dentro da música num silêncio genuíno. O silêncio que nós dois ali tentávamos à força emudecer. Fica quieto silêncio canta logo esse desespero e se faça pleno antes do amanhecer. Devia ser quase manhã quando os dois ali dançando invertiam a lógica e emergiam a alma assolando o corpo sob o pisotear de seus amassos.


Na quarta repetição, era como se o progresso das rimas e das sinas fosse crescendo também as mãos. E tudo era mais forte e tudo era mais norte mais empenho mais teto mais corrupto, tal desejo. E tudo era mesmo mais sorte, forte, sorte a minha compartilhar essa música com você. Sorte minha você perguntar e eu responder. E eu responder.


E agora tudo ainda pode ser mais. Neste quarto sozinho a música se desfaz em possibilidades. Eu imagino o seu corpo dançando virgem a canção que agora eu tiro da caixa. Você perguntou eu deveria ter dito sim, mas houve em mim um desleixo qualquer que perturbou o nosso fim. E por isso hoje eu aqui imagino escrevendo conciso certas verdades que são sinceras em mente.


Penso nos gestos prolongados por versos. Penso nos beijos que teriam se intensificado com um som mínimo de uma flauta doce ou não, o piano bastaria para condenar essa alma à perdição de seus desejos. Mas os dedos, não os posso pensar agora sem o cantarolar dos falsetes, imaginando que cada dedo tem força nova mal se ouça uma voz subindo e descendo em crescente, agonia.


Eu deveria ter dito sim. Quando você perguntou com música ou sem música pode escolher eu deveria ter dito, com música sim eu prefiro com música assim é melhor. E então foram os corpos.

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2 comentários:

juliamarini disse...

Triste e lindo, como deve ser...rs

ai ai...

bjs*

Vanessa Gomes disse...

Maravilhosoooooooooooo!!!
Simples maravilhoso!!!
Lindo!!!Lindo!!!Lindo!!!

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