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domingo, 10 de janeiro de 2010

Verso Branco

Olha,
um verso cruzou meu olhar no meio da multidão.

Na multidão dos versos acostumados
um todo em branco me fitou.
Eu não o saberia descrever,
era branco
era bronco
era algo impossível
por isso eu o fui
tentar compreender,

E o li de imediato:
Nas ruivas curvas
no óbvio maculado
por um sorriso esperto
sorriso todo desejado
todo se querendo romance
todo se querendo ser amado,
eu fui ágil,

Ágil no seu entender.
Em como lidei com ele quando este veio até mim
já todo aberto
como fosse tão belo como o próprio amanhecer.

E era.

Mas não agora.
Não o posso querer.
Lá em casa as rimas são tão precisas
que você me cheira à confusão
você cheira ao corte
à curtição
você cheira ao erro
e eu gosto - eu gosto! - como não?!
mas é que hoje lá em casa hoje não.

E voltei.
Pensando, sem parar.
Como poderia um verso assim
todo bobo
ser capaz de me aprisionar.
Um verso bobo branco bronco
bordado em leveza incontida
ser tão profano
tão profundo
tão armadilha
indo a me guiar sozinho nele
dentro do ônibus pensando.

Assim mesmo, todo enrolado.

Voltei no caminho perdido
sob o sol sobre mim autoritário
e eu me dizendo
foi preciso
eu me dizendo algo que pudesse valer o fato
de lá ter deixado o verso semi-jogado
sem cuidado
sem carinho
sem estrofe de abraços
sem ponto nem de exclamação
nem reticências
nem obituário
no vazio
nu, vazio
sem nada
sem nem mim
sem nem tinta que o fizesse
de novo
página em branco.

Acho que o deixei corado.

E a palidez dessa minha cara amanheceu borrada,
a desejo de menino
desejo bobo
mas distinto.

Porque verso branco rima com todo o mundo.
É verso ágil, verso profano
namora o sujo
tão pleno de gelo
verso-morada do desespero!

E o verso branco hoje se fez necessário
logo hoje quando eu choro o amor
em versos já repetidos
em leites já derramados
e mesmo agora eu assim tão vivo
eu assim tão novo
e cheio desta rima
e cheio desta sina
e mesmo agora assim eu sou ser incapaz de saciar

Porque verso branco não rima
nem estabelece medida
ele apenas flerta com o que há
e o que há nas esquinas
é hoje legião de meninos
é legião de meninas

Flerta então verso branco
porque esta é também minha sina
aquela que o mundo faz questão de multiplicar
a cada rima
a cada esquina
a cada novo e derradeiro olhar
piscado.
        

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