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segunda-feira, 18 de agosto de 2008

A Confissão da Moça da Flanela Amarela

QUE COISA ESQUISITA! A VIDA ACONTECENDO LÁ FORA E EU PRESA AQUI DENTRO. OS PASSARINHOS VOANDO, MAS AQUI TUDO EM SILÊNCIO. EU NÃO ESCUTO NEM AQUELE BARULINHO ESQUISITO QUE OS POMBOS FAZEM. DAQUI DE DENTRO EU SÓ ESCUTO ESSE RELÓGIO DIZENDO, VELHA, MAIS VELHA, DUAS VEZES MAIS VELHA, TRÊS, QUATRO, CINCO DIAS, SEIS MESES... AS HORAS EXISTEM INDEPENDENTE DA MINHA FELICIDADE. EU AQUI PARADA, PARECENDO UMA DOENTE QUE É MEDICADA E OBRIGADA A VIVER CADA DIA COMO SE ELE AINDA NÃO FOSSE O ÚLTIMO. QUE VIDA! TER QUE FICAR SORRINDO, OLHANDO PARA QUEM QUER QUE SEJA. EU TENHO QUE BATER A FICHA E QUANDO JÁ NÃO É NECESSÁRIO, RESOLVEM ME TROCAR DE MESA, ME JOGAM NUM CANTO ESCURO QUALQUER E AINDA COLOCAM ALGUÉM QUE FUMA PARA EU SERVIR. OLHA, TÁ TUDO ERRADO, VIU? O QUE ME FAZ SEGUIR É ESPERAR PELO DIA EM QUE EU SEREI ROUBADA, SEQÜESTRADA. ESPERAR POR ALGUÉM OUSADO QUE VAI ME ESPREMER E ME LEVAR EMBORA DAQUI. NEM QUE SEJA PRA DEPOIS ME LARGAR LÁ FORA, NO CHÃO DA RUA, NO MEIO DO CANTEIRO DA ESQUINA. NÃO IMPORTA! IMPORTA EU SAIR DAQUI! EU PRECISO RESPIRAR! EU CANSEI DE FICAR DE MOLHO, DE VER OS PÁSSAROS PASSANDO DO OUTRO LADO DA VITRINA SEM CANTAR PARA MIM, SEM NEM MESMO CAGAR EM MIM... OLHA QUE AÍ VEM UM RAPAZ!
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2 comentários:

Amigos disse...

bom dia.

LuCais disse...

Adorei essa mulher, acho que é a personagem mais marcante. Há alguma coisa de sonho em tudo, de sonho mesmo que a gente tem quando dorme. E ela tem uma coisa meio real, como se estivesse de fora vendo a comentando as outras personagens - não sei, impressão minha. E a dor dela é tão direta - não sei, impressão minha.

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