Antes de acordar, porém
Eu me levanto devagar
e abro a janela
Não há nada de novo lá fora
Nada que me faça querer ir
ao seu encontro
Por isso eu vago perdido
e se é isso que neste momento eu sinto
eu então vago nisso contido
nessa perdição que não é do ser
mas que ele faz viver
e persistir
Meus gestos estão mais lentos
meus sonos menos tensos
não há nada fora do lugar
exceto o peito
que parece desabrigado
que parece volúvel
e mal adaptado
Mas a que?
E a quem?
Meu peito bate sozinho.
E o mundo, não lhe imprime outra harmonia?
Não lhe preenche de melancolia?
Talvez,
eu não saiba
nem consiga
delimitar
as forças que estão
neste momento
agindo aqui
Mas é certo, porém
que antes de acordar
eu sou apenas eu
Vestido de nudez
íntegro como alguém me fez
Eu antes de acordar
dou bom-dia a cada pequena coisa desta casa que me abriga
para então
Vestido de nova nudez polida
abrir a porta
e partir,
como dizem,
Para ganhar a vida.
...
Chego em casa mais tarde
e vejo, sem muito alarde, devo dizer
que a vida que fui buscar
ficou deitada
No chão da sala
sobre o sujo colchão
a vida ficou esperando
por uma nova estação?!
Eu perguntei
Ela nada respondeu
apenas indicou
com seus silêncios e modos e meios
que eu me sentasse
e percebesse
pela prática da dor do dia
o que meus olhos fechando-se
gostariam de dizer.
...
Dormi.
Sonhei.
E nisso, pude ter você outra vez
Com a precisão de um sonho
que fez a manhã chegar
com o gosto seu
com a certeza na boca
e a saudade amenizada
Ela já não é tão louca
pois pode sonhar com você
toda vez que o corpo
em silêncio
disser para si mesmo
quero você que não posso ter
porque você partiu
e eu fiquei
porque você morreu
e eu ainda não.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário