Foi assim: eu criei certa obrigação comigo.
Eu me convenci muito rápido do que seria preciso,
e hoje, me vendo assim a duvidar disso tudo
eu fico sem saber se devo ou não devo
me declarar luto.
Morri sem saber.
Morri sem ter sido atravessado.
Morri pior, morri abrupto
mas sem piscar quebrar nem mudar os passos:
a vida seguiu tranquila depois de minha retirada sem grito
depois de minha derrota sem vergonha.
Eu fui sem pedir licença
mas não houve ninguém a quem pudesse pedir:
posso ir? Me deixa de mim partir?
Não. A natureza ao redor esteve esse tempo todo empreguiçada.
Eu me olho hoje no espelho e compreendo
palavras palavras vocês não me fizeram nada
exceto me perder de mim.
Por isso eu decreto hoje Luto
para tentar deslizar sobre o meu corpo
enrijecido
para tentar abandonar o verbo
e voltar a me ter só comigo.
Eu morri com a boca cheia de vocativos.
Mas e da voz?
E do sorriso?
Ninguém ousou dizer palavra.
Com os outros tudo é assim comedido.
Só eu talvez que tenha ido
na dança letrada investido
na dança letreiro perdido
crente num nome
mas de mim vazio.
Oh, Verbo!
Por que diabos eu preciso de ti
para dizer o que eu quero?
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