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terça-feira, 12 de outubro de 2010

pavor delicado

ontem a essa hora eu tinha tanto a dizer
me contentei em chorar quieto
guardando mais em mim isso que ainda agora quer partir
mas não sabe andar.

um pavor delicado
uma quentura branda e capaz de cegar
é o que dentro revolve em ondas
que não sei domar
que não sei silenciar
porque se dentro gritam assim
por que deveria eu mesmo as calar?

não,
é solene. é tristeza que pergunta ao mundo
ei, cara, para onde estamos indo?

é solene, eu repito
é um não-saber que se conserta num vinho
com amigos
num queijo pela manhã sendo mordido
num sono profundo que me apaga um segundo
este mundo

preciso,
não deixo jorrar todo o abismo
dentro de mim ainda algo pulsa
querendo jogar-me do alto
querendo me fazer ser menino
aleatório

capaz de flertar com o mundo
sem cerimônia de perda
ou medo de retaliação.

eu volto
passada a última noite
e ainda estou aqui
os olhos já secos

administrando a rouquidão
do peito
sobre este mundo
apavorado.

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