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terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Sobriedade

os dedos imundos
o pescoço mordido
o mamilo (nem sei)
a boca arranhada
o pênis cansado

a sujeira samba
dentro de casa
e eu me sinto bem
ao menos agora
por hoje, ao menos

não quero limpar
nem quero comer ainda
nem sequer fiz café
fiz apenas cinzas
sobre tudo

exceto o peito.

um vulcão
(ou coisa desse calor)
mora dentro de mim
e tem por nome
a vida mesmo.

sem muita graça
mas com algum atraso
eu me revisto
me olho e confronto
no imenso espelho.

o que quero de mim
é tão presente
neste instante agora
que não vale dizer
se não quiser
perder

toda essa disfunção
toda essa inutilidade
toda essa arma
ao meu peito
por mim mesmo
apontada

dói a garganta
provavelmente se furou
ou se queimou
já se foram tantos cigarros
brancos e vermelhos
de marca
e de insuportável gosto

foi-se tanto sobre o meu corpo
que hoje, afinal,
quero descansar

mas não limpo

fico na sujeira
sorrindo purpurina
e fedendo cerveja.

que maravilha!

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