CONSISTÊNCIA
s.f. Estado de um líquido que tende para a forma sólida.
Estado de resistência de um corpo.
Fig. Firmeza, solidez; coerência na exposição de idéias.
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O café quente se transmuta em neurônios. Todos novos. E pré-excitados.
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O irmão mais velho veio falar sobre dinheiro comigo. Ele é bancário. É meio óbvio. As preocupações com o bem-estar familiar se confundem com as preocupações das metas a serem atingidas em seu banco. É incrível a que ponto o ser humano é capaz de chegar. Só se fala em dinheiro nessa casa. Eu não sei até quando poderei aguentar.
Daí entre um dinheiro e outro, eu pergunto a ele: e aí? Como está essa coisa de eu estar namorando? O meu namorado? Como está? Tudo certo. Ele me diz. Com a minha mãe tá tudo bem. Ela veio falar comigo. (Eu não havia falado nada). E daí a revelação: ontem, meu pai (que também é meu), veio falar alguma coisa comigo, por ter entreouvido minha mãe conversando algo com alguém. E me disse: é o tipo de coisa que eu não posso fazer nada a respeito. Né?
Sim, pai. Nada. Você não pode, não precisa e nem fará nada.
Daí voltamos a falar de dinheiro. E eu tentando identificar a gênese do mal, tentando descobrir quando foi - na nossa história compartilhada - que construir lego com meu irmão poderia se tornar, anos mais tarde, comprar terrenos e construir casas, para vender, pelo desejo apenas de conquistar um singular presente: dinheiro.
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Desisti de esclarecer do que se trata meu trabalho. Na maioria dos casos, me associam à Rede Globo, como se para vingar o meu trabalho, eu precisasse estar lá. Mesmo sendo televisão e teatro coisas distintas. A primeira é aculturação de massa. A segunda, uma expressão artística.
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Então começo a me perguntar sobre consistência. Mas vou abrir uma vaga:
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Curioso poder me remeter a este blog. Eu lembro que o criei em janeiro de 2007, quando minha vida havia anunciado algumas potências e coisas sem nome. E eu criei esse blog para fazer nele alguma imagem que pudesse me sustentar frente às exigências do mundo. Eu queria seguir acreditando que ser eu no mundo era algo possível. Deu nisso.
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Volto sobre a consistência. Eu estou me perguntando bastante sobre isso. Neste instante. Qual é o tipo de consistência que me faz estar aqui, vivo e operante frente a tanta miséria.
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A minha mãe perdeu sua identidade e virou tão somente a Psicanálise. Num grau inda mais agudo, agora eu - o filho - EU - posso me remeter apenas à ela. Não há triângulo edipiano. O triângulo é linha e a linha é soma apenas de 2 pontos: EU e MÃE. Nada foge, a vida fica toda retilínea. Eu choro nela. Ela chora ni mim. Eu rio prela. Ela ri pra mim. Que dor imensa é só poder ver teus olhos, mãe.
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Deu que eu vim passar o natal em casa, neste final de 2013 e início de 2014. Deu que eu sou gay e só agora, faz uns meses, resolvi contar isso a eles. Deu no que deu. Um sorriso contido no centro do estômago e um desejo imenso de colocar o pau sobre a mesa, mesmo que seja para dividir a atenção com o Tender.
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Essa poesia grosseira não dá conta do que perpassa minha pele. Tenho amor porque fui obrigado a ter amor por eles? Não. Não fui obrigado. Me importo com todos e com cada um. Mas vivemos um tempo de vida muito equivocado. Eu temo o tempo em que vivemos. Ao mesmo tempo que nossa história me fez entender muita coisa sobre quem eu me tornei - e eu estou tudo certo comigo - ao mesmo tempo, eu me afastei tão fundo, tão longe, que agora parece que estou pagando o preço por isso. Não quero ficar longe porque já estou. Quero tentar me aproximar da minha família. Quero tentar me aproximar da minha família. Nem que seja - mentira - para ter motes novos para novas poesias...
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Natal é época de rasgar embrulhos e comprar presentes errados ao amigo-oculto. Ou seja: pure violence.
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