Vassouras, 25 de dezembro de 2013
Caro Diogo ---
Quem lhe escreve é você mesmo. Eu, nós, a gente, enfim, você. Escrevo a você para tentar deixar marcado, aqui neste blog, algum caminho possível dentre tanto descompasso seu. Sem exageros. Não vou fazer poesia. Vou tentar nas próximas linhas te dar um saldo possível deste instante nebuloso no qual você se faz e a partir do qual você caminha.
Hoje é dia pós-ceia de Natal. Você acordou por volta de 10h30 e ligou a música no seu tablet, escondendo-o sob o próprio travesseiro. Uma melancolia sorrateira acordou junto contigo, mas já se dispersou. E se eu te escrevo esta pequena introdução é apenas por cuidado contigo. Você, que aprendeu a se deixar em segundo plano para ver a flor do mundo florescer em riste.
Não, não há mais possibilidade de você ser triste. Conheceste a tristeza em alguns instante, em algum momento - preciso e precioso - você conheceu a tristeza e não se apaixonou por ela. Agora é tarde. A tristeza passa muitas vezes por nossas vidas, pela sua - ao menos - eu sei que passou várias, portanto, agora é tarde. Hoje você vai ser feliz. De agora adiante, só você felicidade.
Sim, eu sei, eu sei, sim, eu sei. Tu não acreditas em muitas coisas. Mas veja que engraçado, Diogo. Se você me permite, até janeiro deste ano você sequer acreditava em amor. Você não acredita em Deus, nem na Psicanálise, nem em Terapia. Você não acredita em nada - eu sei, não é por mal - porque para acreditar em alguma coisa (eu sei disso) é preciso ter as mãos sobre ela. Seu conhecimento de mundo é pelo toque (não pela fala).
Portanto, se te escrevo essas palavras agora, é para te devolver um pouco do mundo caminhado neste ano que em alguns dias se encerrará. Foste um ano muito positivo, em todos os sentidos: no trabalho, no amor e em família. Foi um ano papo reto. Sem pressa, mas sem aquela agonia (de sempre deixar ao tempo a resolução do que é de nossa responsabilidade).
Trabalho: por ir sem freio nem moral rumo a toda e qualquer fantasia. O desejo é a força motriz do seu instante passageiro. E por não temer passar, morrer, ser atropelado e consumido, a coisa fica, tal qual a noite sobrevive em poesia rima.
Amor: por ti, em primeiro. Mas tão logo tenha sido por ti, seu olhar abriu-se ao outro e tornou-se menos certo de si, tornou-se ansioso pelo cuidado do outro, pelo carinho alheio. Seu novo projeto de vida (e que seja novo assim por todo o instante) é cuidar do seu amor. Desse cara, de quem tanto amo.
Família: você disse, verbalizou: quero voltar a fazer parte da nossa família. Pronto. Primeiro passo. Demanda tempo. Pode ser que um ou outro morra no meio do caminho. Mas não, você andou. Andou demais. Disse a eles como bate aí dentro o seu peito (o nosso coração). Não dá para ser família sendo a si próprio pela metade.
Sem suicídios. A sua poesia, cada vez mais, é verso e não disparate. Já tens idade para discernir verso de pele. Não vá caindo tão fundo em toda estrofe porque o sentido da poesia é justamente manter o corpo de pé lá onde ele já cambaleia. A sua poesia é você quem escreve (por isso, talvez, neste ano que se encerra, você tenha escrito tão pouco).
(Pausa. Você descerá as escadas de sua casa de nascença e se dirigirá até a cozinha, onde encherá - mais uma vez - sua caneca com café preto).
De volta, o café acabou cedo hoje. O ventilador no quarto faz vento sobre os meus cabelos inertes. O que mais eu poderia te dizer, Diogo? Sobre ti? Sobre o que se anuncia sobre ti? Sobre o que vem no adiante? Algo que eu possa entregar que não seja de todo inventado? Que tenha desde já alguma chance?
Não. Deixe. Siga.
Feliz ano novo (ou o que quer que isso seja)
Do seu (mesmo),
Diogo Liberano
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