despenca do céu
volta correndo para casa
transforma a ladeira
em rampa escorregadia
torna esguia
a quina
de cada esquina
e me faça me bastar
me conter
não descer
nem boiar
na primeira poça
que me venha a oferecer
um agrado
um reflexo mexido
um cigarro,
que seja.
...
gilete
espuma para barbear
espelho
água corrente
barba
mãos
sabonete
olho fixo no cortar
aparando sem fim
recortando de mim
eu passo a gilete
e retiro
além de um pedaço da sobrancela
também a tampa de uma das orelhas.
silêncio para esperar a dor chegar.
demora.
é preciso lavar,
ardeu!
agora não vai parar:
escorre sangue descendo
entrando pelos ouvidos
me tingindo a vermelho
e tornando as suas palavras
mais agudas do que são.
...
tentativas
eu mudo o que você fala
eu mudo o que eu falaria
o que sou se posso ser qualquer coisa
e você
quem será
se você é antes
necessariamente
o meu par
eu sequer vou interrogar
porque tudo aqui transpira dúvida
tudo azucrina feito o besouro negro imenso
que vez ou outra
entra pela janela do meu quarto
e me repele ao canto sem mobília.
...
eu estava pensando
o que eu escrevo
não precisa ser necessariamente
o que eu leio
ao me deparar com o filho feito,
eu digo,
nem tudo aqui precisa sair da minha boca
pode sair de outro buraco
outro orifício
pode ser merda sé o que você está pensando
mas pode ser outro cheiro
o escoar de uma ferida
pode ser o que ouvi
ou o que vi
naquele dia
naquela mesma esquina
quando eu passava num óculos escuro
e precisei tirá-los
para ver a agressão das cores
que só em você parecem andar em compasso,
...
às vezes eu minto
e mentir, independente do que dizem
é também uma possiblidade.
...
eu molho o braço na chuva
e tudo o que eu sinto em seguida
são palavras germinando.
eu meto a testa no vento
e o que segue é cegueira plena
são os desenhos na mente indo
e voltando.
o altruísmo me encanta
mas a solidão é o próprio fascínio,
fadado em mim eu vejo
o que não necessariamente eu preciso compartilhar com tigos.
.
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