A uma hora dessas
Eu deixo o seu piano tocar
É doce
Rente à pele
Tudo o que eu preciso
Para dormir
E acordar
Feliz
Uma vez eu pedi
Toca um piano para mim?
Você sequer respondeu
Estava perdido
Como está essa gota
Que agora escorrega pelas minhas costas
Rumo à conclusão de seus dias
Evapora
Desejo evapora
Ultrapassa a sua fase agonia
E vira capa cândida
Vira pele flâmula
Sede
Nunca mais
O calor que agora volta
Foi o não todo consumido
Foi a pele pedindo mais atrito
E eu sem ouvir
Calei-a na solidão
Do não atingir
Na espera
Da putrefação
Você me dragou para dentro disso
Agora não sei voltar
Resta um gosto perverso de perda
Mas resta ainda a vontade
De triunfar
Sem você
No seu lugar
São partes soltas
Nada aqui tem o peso
Do que o conjunto das louças
Dos cacos
Dos meninos
- todos eles apaixonados
são capazes de amargar
Não é possível achar um centro
Um horizonte esburacado pelos tiros
Não é possível
Cada verso atira a um destino
Todos tentando a verdade acertar
Mas no íntimo
No meu dentro meu interior aqui
A verdade consome as paredes
E colore o segundo
Nada aqui dentro hoje pode ser mais taciturno
Venha,
Minhas mãos te chamam
Venha
Estique o seu corpo
E me acompanhe,
Nosso caminho não pode ser assim tão perigoso
Eu tenho você
você pode se proteger com meu corpo
Venha
Não demore mais
Eu estou sozinho
E esperar é cessar o ar
É pedir para morrer um corpo que no auge
Da própria vitalidade
Só pode partir mesmo por amor
Deixe-me só
Tudo assim transtorna o passageiro
Eu não tenho dimensão do seu caminho
Eu não sei, eu sou parvo amante grosseiro
Nada interessa afora o fato do conforto
Do meu bem-estar,
Eu não me importo
Não posso me importar
Se dentro de você as coisas se escondem
E me enganam
Eu não posso adivinhar
Se o seu silêncio desvirtua a alma
Se o seu olhar desnuda não somente a carne
Mas também minha calma,
Venha!
Eu não me importo
Eu te rodeio com meus braços
E abandono o peso sobre você
Isso é amor.
Tente agora compreender
Eu não amo
Eu não quero amar
Mas eu sou livre o suficiente
Para sobre você restar
Com a dignidade dos amantes,
Com as escoriações deste semblante seu
Todo machucado
Todo revolto assassinado
Semblante autoritário,
Eu não me importo
Eu cresço com o que é difícil
Em busca eternamente o precipício
Pois é esse o mistério do meu viver
O dia
Independem as horas
Mas o momento
O tempo
O espaço
Do meu morrer,
Do seu
absoluto deixar de ser
.
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