hoje tempo sem futuro sem passado sem dimensão
eu revolvo ao que fui e me encontro hoje na mesma posição
é poesia então assassinato do tempo?
é dela ele alheio, como se nada dito tivesse peso exceto no agora eterno de sua descoberta?
pois hoje assim como em 2006 uma curta composição do que ontem fui eu hoje eu sou.
a noite já está se acabando e eu,
no entanto, teimo em escrever.
eu lutando contra o sono
contra as minhas palavras
eu contra o meu estado de
abandono.
a noite se consome e eu aqui,
apenas observo a harmonia
através da qual, espero,
passará a noite e chegará o dia.
troca-se o escuro pela luz.
substitui-se ânimos cansados
por outros mais jovens e eu,
no entanto, escrevo como se
soubesse o intento desse
meu estranho hábito.
preciso de um motivo que assegure
essa vontade passageira?
preciso de algo mais, além das teclas,
da tela clara e da caneca cheia?
preciso. e eu sei disso, mas
a dura constatação do saber
não me oferece outro sentimento
senão o vil engenho de me auto-moer.
preciso, estipulo todas as medidas.
todas as doses para que no final da mistura
só me reste a vida. independentemente
se quando isso ocorrer, for noite ou dia.
.
eu volto a questionar tudo isso aqui já não é novo é um sem fim sem terminar
desde então eu escrevo buscando o inatingível nada é novo realmente
tudo sempre passa pelo princípio e ele é minha certeza
a certeza de que sempre haverá a possibilidade de reescrever o que eu sempre
nunca
serei capaz de compreender.
lembrança
todo poeta tem um poema chamado infância, mas isso afasta tanta coisa.
porque sobre as linhas não cabe toda a cor, sequer todo o suor, risada e dor.
não cabe as peças dos brinquedos mais animados
brinquedos especiais sempre amados
as rodas das várias bicicleta, os cortes nos dedos
e o sangue! tanto sangue pintaria o prédio dos bombeiros.
não cabe não por falta de espaço
pois escreve-se o que deseja, sem esperar aprovação ou o efeito do agrado.
mas porque a infância não usa
moldes, potes, redutos nem arestas.
ela é eterna.
em suas faltas.
em suas presenças.
infância lembrança eterna
que no decorrer da vida
sempre, sempre nos altera.
sobre um poema não há muito espaço.
talvez, sob ele, o mundo seja até escasso.
mas, enfim, o que está por baixo talvez
não exista para ser encontrado.
ou quem sabe, até mesmo
exista para ser revelado
mas aos poucos, com cuidado
como a infância se refaz
em nosso corpo, mente,
olfato.
aos poucos,
com cuidado, eu digo!
sinto de novo um cheiro
a textura fictícia entre meus dedos
bem devagar relembro um jogo
que um dia não parava de fazê-lo.
valor incerto tão quanto incalculável.
amor confesso “o dia está claro!
ainda está claro!”
lembranças perdidas
mas que sozinhas
preenchem um
todo um vagão.
histórias implícitas
em toda pele, em cada estigma
em todo canto, em cada esquina
emaranhadas naquilo que sou
no que seria quando crescesse.
memórias, enfim
que ressurgem no meio da noite
num sonho como um super-herói
numa música imagem colante
lembranças para a vida toda
em doses homeopáticas
pois todos querem que sejamos
homens
antes mesmo que a infância
parta, para seguir aos pedaços
a sua longa e eterna jornada.
.
outra composição que foi mas ainda hoje persiste
como se dela eu retirasse palavras e de cada uma delas
fizesse outras linhas
e cada uma multiplica ao infinito
e nunca haverá fim
a poesia é sempre o início de uma história sem fim
sem mim independe o autor ela segue é tenaz ela tenta desvendar o amor
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