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sábado, 10 de janeiro de 2009

20 de agosto de 2006

uma data ultrapassada um tempo vivido uma vida despreparada mas indo tentando cavando a própria fundação
hoje tempo sem futuro sem passado sem dimensão
eu revolvo ao que fui e me encontro hoje na mesma posição
é poesia então assassinato do tempo?
é dela ele alheio, como se nada dito tivesse peso exceto no agora eterno de sua descoberta?
pois hoje assim como em 2006 uma curta composição do que ontem fui eu hoje eu sou.

o dia anoitece

a noite já está se acabando e eu,

no entanto, teimo em escrever.

eu lutando contra o sono

contra as minhas palavras

eu contra o meu estado de

abandono.


a noite se consome e eu aqui,

apenas observo a harmonia

através da qual, espero,

passará a noite e chegará o dia.


troca-se o escuro pela luz.

substitui-se ânimos cansados

por outros mais jovens e eu,

no entanto, escrevo como se

soubesse o intento desse

meu estranho hábito.


preciso de um motivo que assegure

essa vontade passageira?

preciso de algo mais, além das teclas,

da tela clara e da caneca cheia?


preciso. e eu sei disso, mas

a dura constatação do saber

não me oferece outro sentimento

senão o vil engenho de me auto-moer.

preciso, estipulo todas as medidas.


todas as doses para que no final da mistura

só me reste a vida. independentemente

se quando isso ocorrer, for noite ou dia.


.

eu volto a questionar tudo isso aqui já não é novo é um sem fim sem terminar
desde então eu escrevo buscando o inatingível nada é novo realmente
tudo sempre passa pelo princípio e ele é minha certeza
a certeza de que sempre haverá a possibilidade de reescrever o que eu sempre
nunca
serei capaz de compreender.

lembrança

todo poeta tem um poema chamado infância, mas isso afasta tanta coisa.


porque sobre as linhas não cabe toda a cor, sequer todo o suor, risada e dor.

não cabe as peças dos brinquedos mais animados

brinquedos especiais sempre amados

as rodas das várias bicicleta, os cortes nos dedos

e o sangue! tanto sangue pintaria o prédio dos bombeiros.


não cabe não por falta de espaço

pois escreve-se o que deseja, sem esperar aprovação ou o efeito do agrado.

mas porque a infância não usa

moldes, potes, redutos nem arestas.


ela é eterna.

em suas faltas.

em suas presenças.


infância lembrança eterna

que no decorrer da vida

sempre, sempre nos altera.


sobre um poema não há muito espaço.

talvez, sob ele, o mundo seja até escasso.

mas, enfim, o que está por baixo talvez

não exista para ser encontrado.


ou quem sabe, até mesmo

exista para ser revelado

mas aos poucos, com cuidado

como a infância se refaz

em nosso corpo, mente,

olfato.


aos poucos,

com cuidado, eu digo!

sinto de novo um cheiro

a textura fictícia entre meus dedos

bem devagar relembro um jogo

que um dia não parava de fazê-lo.


valor incerto tão quanto incalculável.

amor confesso “o dia está claro!

ainda está claro!”


lembranças perdidas

mas que sozinhas

preenchem um

todo um vagão.


histórias implícitas

em toda pele, em cada estigma

em todo canto, em cada esquina

emaranhadas naquilo que sou

no que seria quando crescesse.


memórias, enfim

que ressurgem no meio da noite

num sonho como um super-herói

numa música imagem colante

lembranças para a vida toda

em doses homeopáticas

pois todos querem que sejamos

homens

antes mesmo que a infância

parta, para seguir aos pedaços

a sua longa e eterna jornada.


.

outra composição que foi mas ainda hoje persiste
como se dela eu retirasse palavras e de cada uma delas
fizesse outras linhas
e cada uma multiplica ao infinito
e nunca haverá fim
a poesia é sempre o início de uma história sem fim
sem mim independe o autor ela segue é tenaz ela tenta desvendar o amor


a blanchot, que me ajuda a desvendar o eterno em que me lançei.

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