Tentativa iniciada
No entanto, porém
Alguns resquícios reivindicam a sua estadia
Sobras que gostaria que não estivessem
Lamentos que tornaram-se crônicos
Solicitam em mim morada eterna.
Eu quero partir
Ver rachar a própria base
Para em meio às sobras
Descobrir o meu resto
O que de mim restou
E sendo assim,
Ser quem eu quero
E não quem eu sou.
Mais uma vez as palavras voltam para esse lugar do eu
Mais uma vez eu estou no centro
Eu estou no que é meu
No que olho
No que me seduzo
Naquilo que me derroto.
Eu estou aqui.
E como haveria de ser?
Vem sempre uma pergunta retórica
Que eu faço questão de contradizer.
Eu faço questão hoje em ser
Esta absurda negação
Se nada assim tanto me seduz
Eu digo
simplesmente
Ou não.
Mas devo insistir, eu sei
Algumas forças
Como os resquícios
Requisitam em mim uma limpidez inatingível
Mas desejosa de ser percorrida
Na cozinha
A panela estala
E dentro dela a água acidifica
Tudo para fazer um café
Que me leve no decorrer desta noite
De chuva
E grilos
E saudades
Em meio aos filhos.
Aos novos.
*
Não adianta tanto assim esquentar
As coisas
Quando excede o calor
Começam a morrer
E perdem sua integridade.
A água
Quando demais aquecida
Vira ruído
Dissolve a verdade.
Não adianta
É preciso ter calma suficiente
Nem para se esquecer
Nem para anteceder o corte
Que vem sempre para dizer
Basta!
Chega de calor
Chega de esquecimento
O corte vem sempre para dizer
Que o amor está virando tormento.
**
Me falaram de forma
De dar forma ao meu íntimo
De modelar peito e corações
A alguma arte - sensível -,
Falaram de sinceridade
Ela aqui se reconhece
Mais é preciso
Muito mais esforço
Tentar contornar a essência
E ressaltar
A sua falta de escapatória.
Deixar sem ar.
Tornar o íntimo espremido.
Fazê-lo gemer
Grunhir
E gritar.
Grita íntimo
Faça algo em todos nós conflitar.
Erga-se, não mais em silêncio,
E venha rachando meu interior
Venha mostrando ao mundo
Que desse lugar de onde tu partes
Tudo enfim já está partido.
E juntos,
Daremos as mãos, eu aceito,
Façamos do enlace o estopim
Da nossa falta de ar.
***
Um dia eu o vi ali
Se esforçando para algo dizer
Não que não soubesse a língua
Não que não houvesse alguém ali
A lhe ouvir
Mas espremia-se de tal modo
Que tive eu mesmo que dizer,
Não pensa muito, menino
Porque pensar lhe roubará o dia
Ele me olhou fingindo surpresa
Mas não demorou muito a me insultar
Com outra rima,
Não pensa muito o dia será roubado
Não pensei muito e foi meu brinquedo
O quebrado.
Então era aquilo, eu percebi
O brinquedo meio rachado
E no olho uma lágrima a espera
Despenco ou não
Ameaço partir ou vou secar?
As dúvidas da lágrima foram se perdurar
Porque o menino ainda mais agora pensava
Matutava
Suava esforço sem parar e
Dizia entre os beiços algum outro insulto
Até que num clique
As peças se encaixaram
As rodinhas ao corpo voltaram
E do sorriso
As lágrimas escorreram
Se eu não pensar
Quem vai arrumar meu brinquedo?
Fiquei ali no chão da rua sentado
Meio sem nexo
Meio do meu posto arrancado
E a criança voltou a brincar
No ruído do seu carrinho na pedra a trepidar
Eu percebi o tamanho do esforço
O tamanho do pensar que eu fizera
Naquele momento
Para entender
Que uma coisa é brincar
Enquanto a outra
é o incompreender.
.
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