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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Revolução

O sono se perdeu. Acordei com o olhar desperto e a cabeça viajante. Entendo, depois de algum tempo, que estou hipoglicêmico e que é preciso me erguer para comer algo doce. Aos poucos, após consumir algum açúcar, a vida se equilibra de volta e a poesia morre, repetitiva e incapaz.

Mas é nesse limite entre estar hipoglicêmico e ter a glicemia controlada que a minha vida acontece. Por inteiro.

Penso sobre a minha inteligência. Penso sobre como a utilizo sempre para o menos. Penso sobre como me machuco e sobre como transformo em dor o meu amor sobre as coisas. Nasce abrupto um desejo de revolução. Paradoxo. Eu penso sobre a vida, sobre os amigos, sobre as perdas e sobre o que estou fazendo comigo. Sobre a saúde, eu penso sobre o câncer do mundo e me ponho em cheque: quero usar minha esperteza para amanhecer o mundo com calor ameno. Com cuidado atento e repetição florida.

Não quero mais ser incrível e não dar corpo as utopias. Elas estão carentes e eu, esperto, me perco em quê? Quem eu engano? Eu sei tudo. Eu argumento (para além do bem e do mal). Logo, como posso ainda assim me encruzilhar? Como posso acabar comigo e com o meu redor?

Hoje é dia de finados e é neste ponto – exato – onde começam meus outros passos. Serventia minha ao que vier adiante. Intenção genuína e com pretensão a contaminação mundial. Eu queria usar nossa inteligência para ser incrível. Não é ser gênio, é ser foda, ser incrível, ser capaz de coser partes soltas e quebrar pontes (sem que morram os cidadãos).

Minha cabeça dói. Mas dentro, no peito, no íntimo. Dentro – em rebuliço – eu tramo um amanhã envolto em peripécias. Não quero essa poesia se ela não vier e tombar a mesa. Qualquer mesa. Toda mesa. Não quero mais metáfora se elas não puderem tomar o café da manhã junto comigo (e junto ao mundo).

Quero tornar possível. O sangue, aos poucos em mim, se tranquiliza. A hipoglicemia morre, mas me resta ainda pela invenção apaixonado. Eu pego um rolo novo de fita crepe e transformo um maço novo de cigarros em peso de papel. Eu envolvo o maço em fita crepe e o transformo em câncer congelado. Eu me perguntando por que é que eu fumo se eu sei – desde sempre – como isso não quer me multiplicar.

Eu cansei de enganações. Eu quero ser sincero e, assim sendo, eu preciso sair do lugar. Não posso. Quantas outras coisas eu não posso e mesmo assim me engano carregando-as através dos dias? Eu quero ser meus vinte e quatro anos. Eu quero ser jovem e adulto. Eu quero ser certeiro e não cair em algumas armadilhas já tão triviais.

Eu fico. A tremedeira passa e o mundo volta a ser insosso outra vez.

Paciência.

É trabalho de formiga.

Esse texto não cessará de acontecer.

3 comentários:

Natássia Vello disse...

Vamos dar corpo. Eu dou o meu corpo para criar corpo. Ta na hora já.

Adassa Martins disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Adassa Martins disse...

E da poesia nasce, agora, o nosso estar INOMINÁVEL. Vamos fazer esse agora florecer de uma vez. Eu vos aceito!

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