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sábado, 26 de março de 2011

comigo mesmo

Para Natássia Vello

eu acho que dancei
sim, eu dancei
não sei se tinha música
sim, tinha sim
eu não tomei café
acabei de tomar
quer dizer eu acordei
com um telefonema de mãe
e voltei a sonhar
eu acordei de novo
com um telefonema a cobrar
da proprietária do prédio cobrando documentos o meu íntimo e infos sobre meu sustento

eu fui grosso
eu fui tenaz
arrumei, lavei, comprei
eu preparei sobre o tapete a pilha de leituras
eu não li nada
eu li o jornal
eu empilhei o jornal
eu fiz compras
eu furtei uma barra de cereal
eu sempre furto
eu sempre entro no mercado e ganho um bolinho um cereal alguma coisa que faça valer aquele instante ali depressivamente absurdo

eu acho
que fazer compras é o fim da picada
é o fim da picanha e eu nem quero comprar mais nada
exceto talvez
eu penso agora
exceto talvez um pote cheio de canudos coloridos
mas eu já tenho
eu tenho canudos
eu me formo esse ano
onde?
eu digo, na minha graduação
eu me formo
para agir sobre o mundo que sobre mim já age sem freio

eu me formo para me perceber incapaz e sempre ao meio

que surpresa, não?

o dia correu solto e reside nisso toda a nossa eternidade.

eu aqui sem um você
eu aqui repleto e distinto
eu aqui querendo sempre que os sábados sejam sempre
eu só comigo.

que saudade eu tinha de mim.

2 comentários:

Natássia Vello disse...

Acho que neste último ano deixo de me perceber ao meio pra me perceber inteira, pra depois perceber que essa minha inteireza é a metade de outro inteiro que ainda irei descobrir, que também é metade de outro inteiro. Mergulho então na eternidade de um dia sem um você,e descubro que o lado bom disso é poder estar só comigo.

Que bom ter um amigo como vc, que é poesia cotidiana.

TUA FILHA GOSTA! disse...

eu gosto de fazer compras;
eu gosto dos sábados,
qd somos, eu e você;

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