Pressupõe responsabilidade. Pressupõe tanta coisa que quando nos vemos assim – como pais – nos sentimos na realidade órfãos e nada mais.
Pressupõe escuta para além-paredes. Pressupõe tato para além do iceberg ou do vulcão. Para ser pai é preciso ter ultrapassado a auto-comiseração.
Paternidade pressupõe partilhar. Dar do seu para o seu que acabou de chegar. Dar do seu para o seu sem pensar em volta, sem pensar em retorno.
Para ser pai é preciso saber amar o abandono. Saber amar os prazos fixos e com terminação concreta.
Ser pai é ser ciente de que um dia o seu pássaro voará. É ser ciente de que sim, será possível sofrer e chorar, mas que talvez seja mesmo só isso.
Ser pai é duvidar se o seu está lá agora longe e distante mas em ti pensando. É duvidar se eu te amo. É duvidar sobre a noção de amor, sobre a noção de tempo, sobre a noção de abandono.
Nada é como é, mãe. Nada é simples assim, pai. Se hoje eu aqui sobre filhos me perco escrevendo, é só porque com vocês estive (ainda que por vezes só aqui comigo, só dentro em corpo e pensamento).
Ser pai é ser filho. O primeiro pensando no outro assumido. O segundo disfarçando a força com que pensa nos seus. É balança sinfônica que grita estridente e faz peso, faz som grave e permanente.
Ser seu filho pressupõe saber amar.
Quero um dia que meus filhos me digam o mesmo. Mas eles só vão nascer quando eu puder dizer assim – claramente – a vocês, meus pais, o quanto importa para mim a sua noção de presença.
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