Sou aluno da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ – desde o primeiro semestre de 2006. Fui aprovado no vestibular realizado em 2005 e, desde então, faço graduação no curso de Artes Cênicas: Direção Teatral.
Este ano é de fato o ano da minha despedida, o ano em que concluo as disciplinas pendentes e posso, enfim, me formar. É estranho sentar aqui e agora para escrever essas palavras (que ainda não sei quais serão), mas ao mesmo tempo, é reconfortante; olhar para trás e ver-se agora, no que um dia foi o adiante. As coisas de fato mudaram, de fato houve uma formação e eu hoje sou outro, graças aos contatos e cruzamentos empreendidos.
Tenho uma gratidão profunda pelo ensino que tive. Tenho mesmo. Acontece que isso nunca me fez abaixar a cabeça para inúmeras faltas que eu como aluno considerei como faltas. Sou aluno de um curso que prevê a formação de diretores teatrais. Ou seja, mais do que um curso que forma pessoas tecnicamente capacitadas para dirigir uma peça de teatro, creio que o meu curso forma artistas, potenciais manipuladores e editores de agregados sensíveis.
É de fato estranho o que estou escrevendo. Mas é que queria deixar aqui registrado – neste espaço também retrato da minha vida - como com o passar dos anos o horizonte dos professores vai sendo atacado e perfurado por nossa ousadia. Se num ano anterior o horror foi um dado assunto ou invencione de algum aluno, neste ano de agora isso já é comum e eles – os professores – se apropriam do abuso tal como uma máquina capitalista o faz. Tudo vira produto – até mesmo a negação da noção de drama, da noção de atuação, das noções inúmeras que fazem da arte – na Academia – uma certeza e menos uma tentação.
Sim, na tentativa do diálogo, os limites são sempre mutáveis e o certo vira errado e o errado vira certo. Não digo isso por descontentamento. Digo isso porque me assusta e traz felicidade ver esse movimento todo de amadurecimento, porém, num caminho invertido. Amadurecer o ensino não me parece nada mais do que voltar a ser criança. E meus professores estão ficando velhos. Eu também estou, a propósito. Mas vejo neles uma aura de infância que talvez não tenha sido autorizada. Eles estão sendo sem saber aquilo que condenaram e tentaram evitar. Eles se esquecem talvez que a sua sensibilidade fala mais do que o gabarito escolar. Cada vez mais dentro desse curso se pode fazer tudo aquilo que a mãe lá no início dizia não poder. Cada vez mais eles batem palma para a rebeldia que certo dia o pai condenou à fogueira de um “ismo” qualquer.
E isso não é vergonha. Não é falta de coordenação. É a percepção e aceitação do inevitável. Ora, vais lutar contra o hibridismo que contamina a arte, seja ela qual manifestação for? Vais lutar contra a dramaturgia contemporânea que a todo custo tenta reinventar aquilo que está pronto – sim, talvez – mas que não nos toca mais? A arte é feita disso mesmo, desse intenso e ininterrupto processo de desautorizações. Hoje o protagonista é Hamlet, amanhã Rosencrantz e Guildestern o são. Quer dizer: vagamos em busca de novos pontos de vista para não cessar de contar as mesmas histórias.
Talvez tenha começado o texto querendo dar uma gritada. Manifestar como há absurdos imensos na Academia da qual faço parte. Mas não. Com calma e doçura eu soube ano passado que precisaria passar por certas provações para no adiante – hoje – poder respirar e saber: há temas que não me tocam, há procedimentos que já não me impressionam, há guerras para as quais meu suor é santo. Eu também estou em movimento e a cada passo meu – é como diz um poeta – o mundo inteiro sai do lugar.
Um comentário:
eu sei exatamente do que vc está falando, porque eu também fazia gritarias na minha graduação e depois na minha pós-graduação e vou gritar a vida inteira contra os limites-absurdos da vida acadêmica.
eu quero estar na tua formatura e te ver lindo e feliz.
eu também estou em movimento e a cada passo meu, mundos inteiros saem do lugar. (lindo isso)
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