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quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Torpor

Passado o vento
algumas palavras alucinam meu pensar

Não foram assim fofas demais?

Como? se entre elas frisei tanto o despedaçar
se pintei tanto entre elas o precipício
a lágrima
e nem tanto o luar?

Passado o vento
os cabelos ainda estão plácidos
as roupas duras
são todas de plástico

Eu vi
eu vi as unhas
estavam limpas
e a terra molhada
molhada no chão ficou
molhada no chão secou
e nem tudo virou cinza

Certas existências
existem para perdurar

Para contar o caminho
Nem fim nem começo nem meio eu me aborreço
e me volto à elas para rememorar
quanto de mim é verdade
incapaz de te tocar

O que posso fazer
se o meu mais sincero filho
hoje
já passado
foi impreciso e autoritário?

Para onde foi minha verdade que o vento não quer largar?

Talvez eu deva mesmo e somente respirar
sugando dia após dia
como num solavanco da alma
todo o excesso ao ar enfim lançado

Que em alguém encontre um eco
um cheiro esquecido
que nas alturas você se escute
e veja o que fizeram contigo

Que nas alturas
você despenque
e venha aqui me ver
venha aqui me ler
e tente, por favor, me fazer compreender
tudo aquilo que dessa vez
eu sou plenamente incapaz de.
.

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