Tenho a boca seca
não de amor
nem de água
não de fala
boca minha seca de fumaça
e tudo então fica nebuloso
tudo em mim fica passível
de não ser o que digo
de parecer precipício
quando
dentro
é caminho
Boca minha precisa molhar
não no gesto
mas no ficar
persistir nas poças
e repousar
e tudo então será pranto
serás boca minha piscina
onde as crianças que invento
encontrarão seu eco
seu gesto
sua rima
Uma voz suave repete a construção
um menino se perdeu e está de pé
pés firmes no lábio inferior
mãos sedentas no de cima
olhando para fora
dessa caverna toda minha
e tudo então dela parte
tudo ou pode ser grito
silêncio gemido
ou disparate
tudo então pode voltar
cair para dentro e naufragar
na poça do intestino
no mar que carrego comigo
sempre dentro
sempre revolto
sempre preciso no desalinho de suas ondas
e contornos
e curvas
minha boca
é deserto
é aridez
é peito além do aberto
além do exposto
ultra-além do protesto
e tudo então
vira poesia
pois nada escapa ao vento
que vento
ao tentar fazer compreender
a rima impossível que se tornou
o morrer.
one two three four five six seven eight einstein on the beach
Nenhum comentário:
Postar um comentário