sinto um calor agora
estou pensando se devo me escrever a mim mesmo
se devo escrever
sobre este momento
para amenizar um pouco
a sensação de ver tudo indo
e eu ficando,
perdido e desorientado.
eu pensando se devo fazer poesia ou trabalho
se um dia conseguirei ser o que sou
sem que para isso eu precise me mutilar a cada passo
dado
não sei
sorteio o meu destino
quero ser mais tempo
e menos espaço.
estou quente
a camisa preta assegura o calor que quero perder
mas se fico
nisso aqui entretido
pois se fico
conservo ao corpo
a irritação que nunca quis deixá-lo esquecer.
eu sempre querendo me judiar e me fazer comigo mesmo aprender.
eu querendo sempre me fazer maior e mais forte que o tempo.
estou cansado
e tanto ainda por minhas mãos acontecendo,
tanto me esperando
tanto me puxando
me amando
tanto me comendo,
queria hoje, mãe, de novo
ser música
ser salto e voo
ser pulo e todo
as palavras morrem fáceis na minha mão
o que desejo delas
é improvável
elas me olham
neste instante
e eu sei
querem me dizer
as palavras querem
me dizer:
você hoje
assim como ontem
não terá solução.
contente-se em estar vivo
e ter pernas para ir à janela
e fazer o vento entrar.
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