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segunda-feira, 17 de maio de 2010

O Dócil

Supreendido,
jogado sobre a cama
sem a habitual expressão de menino.

Virara homem, assim
de súbito. Grosseiramente alguém
incapaz de sorrir frente ao impreciso.

Fitou a parede. Quis ser pedra.
Permaneceu mais uns segundos
estático, envolto inerte
numa respiração opressa.

Como pode? A quem perguntar?
Como faz? Não era de se espantar?

Isso. Isto. Ele quis dizer.
A garganta seca rangendo
a indefinição rompendo e peito
e virando gente grande.

Era isso. Fechou os olhos
para ver seu menino – ele mesmo
indo trôpego, já lá distante.

Com que força, meu deus,
com que força tornara seu amor
força destruidora
desalinho
ódio pulsante.

Naquela tarde ele descobriu o horror.

E demorou dias a se reconhecer
pois estava seu corpo
já todo tomado
pelo ódio
pelo desabor, meu deus
a tudo aquilo que antes lhe salivava inteiro

Era ódio, se dizia a si mesmo
olhando fixo a parede do quarto
Eu queria saber te amar de novo
mas o meu ódio por ti

tens me valorizado.

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