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domingo, 23 de maio de 2010

O bem que me afasia.

Aquela luz que antes sim me dizia
hoje não me serve mais
Reluto dentro do quarto
busco sem fim um ponto negro
um fiapo de alguma escuridão,

a clareza por sobre as formas
a dança da poeira em pleno ar
o acúmulo de folhas e livros e escolhas
hoje isso tudo começa a me cegar
e estar cego neste momento
é ter o olhar domado
para a leitura das coisas prontas
que capturam os gestos
e dizem por eles somente o mínimo
necessário,

não.

preciso de uma escuridão
e não seu peito a mim aberto
nem mesmo o cobertor concreto
hoje eu preciso encontrar um ponto
e nele me deter,

preso primeiro pela incompreensão
que é o que de mais compreensível
possa haver,

hoje.

O que antes dizia o que era
hoje diz tudo já ido.
Consome no tempo do nome
seu tremor
seu gemido
e tudo enfim vira história
enquanto eu sigo personagem de uma afasia própria
a qual antagonizo.

Escuridão, um pedaço
fibra da carne vencida
estrofe de poemas ruídos
pela persistência
pela rima inconsistente do ser
não ido
do ter
não tido
do ver
abismos.

Hoje eu nasço de novo
Com os olhos virados para dentro
de todo e qualquer buraco
como eu mesmo Hoje me sinto
muito.

______
FONTE: instabilidade perpétua, de juliano garcia pessanha

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