Mas não me estranha o fato de não saber desenhar
Estranho primeiro
O fato
De seu rosto
Eu não todo lembrar.
Como se através do tempo
Suas linhas tendessem ao pulo
Tentadas a seguir num rio qualquer
Feito o seu sangue fez ao escorrer o céu
E escrever no voar
Que você, enfim
se foi para não voltar.
Não sei se é tristeza
Mas tive que parar um segundo
A minha voz esmaeceu
Os amigos ao redor não entenderam
Porque tanto eu rabiscava um papel
Meio amassado
Meio jogado sobre minha cama
Meio tendo perdido
Num segundo
Toda a esperança.
Eu estou aberto agora
Faça o favor de entrar.
Estou esperando você um dia voltar
Apesar de saber
Eu sei
Que morreu
Morreu o corpo primeiro
E o que havia dentro
Eu aqui escrevo
Feito mistério
Que não se dissolve por inteiro
Eu aqui escrevo feito
Eu sem você
Feito o medo de não morrer
E ter que ainda nessa vida ver muita dor rompendo
E o meu peito chorando cego
Gritando intenso
Os meus amigos se lançando
Sem tempo para um adeus,
Você está tão presente
Que estranho o valor do tempo.
Nada parece ser tão distante
Quando o que há ainda é intenso.
Não
Eu realmente nunca me senti assim antes
Estou ao seu centro
Você é meu redor
Eu não quero me esconder
Pode então você se aproximar.
Tento me lembrar porque tive tanto medo de ser o que sou.
Mas você me ajudou nisso aqui
Ajuda sobre a pele
Que se constrói riscando até o osso
Rompendo o pêlo e a carne
E tudo me parece tão certo agora.
Não parece?
Perece.
Um errado muito certo.
Um rompante desconexo
Mas vital.
É um ciclo assim mesmo. Ciclo para mudar o nome. Para subir no trono e tombar adiante. Sinto saudades. É um pouco disso também. Estar nu ao seu centro. Eu não quero esconder. Veja através de mim.
Kelga.
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