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sábado, 3 de maio de 2008

Reversos

Eu quero escrever
As mais belas palavras.
Eu quero te rodear
E fazer com que sintas
Sem te tocar.

Eu quero dizer
Eu te amo
Sem me pronunciar
Quero dizer
Sem nem mesmo falar.

Eu me sento agora
Nesta noite sem fundo
Ou fim
E escrevo palavras
Cujo rumo
Eu não sei
Mas cuja existência
Cria-se no ato de seu próprio
Inventar

No ato de dispor palavras
Neste fundo que as absorve
Livres
Eu invento a vida
Eu discuto a morte

Eu me faço pleno
Em versos
Aos cortes
Eu me monto
E remonto
Cada parte
Cada arte
Cada medo.

Faço minha auto-análise
Faço a minha higiene
Pessoal
E sigo
Destemido
Pois conhecido o meu corpo
O resto é acréscimo
eventual.

O corpo
Conhecido
É tudo o que eu preciso

Os ombros
Soltos
Leves
Decididos
Não são mais tensos
E nem temem o amanhã

As mãos são leves e por vezes
Arrancam à força a dor
Do peito
Que arfa
Mediante amores
E rumores de quem
Se disse amar.

Os pés
Permitem-se o não saber
Do seu caminho
Por isso sigo seguindo
E seguir é meu destino.

A morte?
Que venha no seu tempo
Ou no tempo que, eventualmente,
Eu possa a desejar.

A morte
Que venha e carregue consigo
A minha vitalidade, toda ela
Minha disponibilidade
Que leve embora.

Eu quero estar vivo
Para morrer
E nisso saber
Que eu fui-me.

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