Eu olho a rua
que trepida a nossa frente
Você também o faz
a gente observa o mundo
inseguros de nós mesmos
assim
lado a lado.
Eu te miro
e te esbarro
minha boca diz
chega esse momento do ano
e eu começo a listar
os caminhos
os projetos
os encontros
realizados.
Você me olha
e então eu sei
que você sabe
que estou falando
de nós dois.
Os carros passam velozes na avenida
E a gente sobre a corda bamba
do esbarrar e afastar
as peles
tão tímidas
(como podem? hoje então
mais que ontem elas estavam
com medo
de faiscar).
Os carros.
Vamos olhar os carros
enquanto não temos segurança
mínima
para nos sustentar.
Os carros.
Fiquemos neles
eles não cessam de se atualizar
e cada hora é um que fala
ora eu
ora você
ora, então
quando você fala
em direção aos carros que passam
eu te olho
(por que não?)
eu gosto de te ver
e quando eu falo
eu sei
os carros lá na frente acham que os quero
mas não
eu só quero mesmo é o cara
que do meu lado
observa
instigado
a poesia que ele faz em mim
nascer.
Então eu olho os carros
eu falo
eu falo
e você me vê
e depois, eu acabo
e viro a ti
que novamente aos carros
volta a declamar
aquilo que ainda hoje
não pudemos compreender.
Não se trata de compreensão
nem de cabeça quiçá de lógica
Eu falo de arrepio.
Eu falo de você
de mim
e do enroscar
de nossas aortas.
________________________
Nenhum comentário:
Postar um comentário