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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

o corpo fala

Fala alguma coisa.
Nada.
Nada?
Falei.
O quê?
Nada.
Pois é, não falou nada.
Tempo.
O que você vai dizer é tempo?
Já disse.
Quer tempo?
Eu?
Foi o que você pediu, não?
Não. Foi o que eu disse.
Tempo de mim?
Não. Tempo das horas, dos segundos, da pausa. Tempo para pausar.
Eu te canso?
Não.
Fala.
Eu não quero falar.
Quer o que então?
Te olhar. Posso.
Pode.
Estou te olhando.
Não precisa falar, eu vejo.
O que você vê?
Você me olhando.
Nada mais?
Eu vejo também você.
E...
Nos seus olhos, eu me vejo.
Você está aqui comigo.
Com você.
Eu preciso de você para me ver.
Precisa?
Ou de um espelho.
Você de mim eu de você.
O que você me mostra que eu não sei ver?
Como?
Nada.
Fala.
Não quero falar.
Diz alguma coisa.
Não quero.
Escuta.
Diga você.
Você sempre fala antes de mim, mas aqui é você o ser fofo. É sim, não faz essa cara...
De sem graça. Eu fico assim.
Acostume.
Vou tentar.
Você é...
Ai. O quê?
Você é.
Assim?
Sim. Simples assim.
Simples, sim, você também é.
O quê?
Isso que está acontecendo comigo.
É muito.
Sim, é demais.
No bom sentido.
E nos outros também.
A gente tá conseguindo conversar.
E o corpo? Como está?
Tremendo.
Com vergonha.
Vem aqui.
Com calma.
Eu te toco.
Não me olho.
É bonito, ver você se envergonhar.
Como faz?
Faz o quê?
Para aguentar?
O toque.
o beijo.
Aguentar o destino deste momento, como faz?
Pode cair. Eu te seguro.
Eu caio.
Eu fico.
Eu fico,
para que eu também possa cair. É isso?
Funciona assim.
Ainda assim.
Que bom.
Bom, né?
Muito.
Obrigado.
Vem.
Calma.
Beija.
Não fala.
E agora?
Estamos juntos.
Em silêncio.
Mas gritando juntos.
É melhor.
Sem falar.
É melhor, não é?
Mas algo sempre se pronuncia.
Você está quente.
Você é que é.

...

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