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domingo, 6 de dezembro de 2009

quede.


e se a perna dói
dá-se um tempo
dá-se uma moleza divina
apaziguando o corpo
e seu respirar


vai, garoto
amolece esse semblante
e descanse
como quem morre e já não pode mais
sequer
falar.


morre um pouco.
eterniza esse descanso.
não faça pouco caso
você precisa
seu corpo grita
ouve! seu corpo está gritando.


encoste essas costas no chão
veja como gritam
como pedem aos céus um minuto que seja
da sua mão
para afagar
para afagar a dor
para despir a roupa e dormir nu
sem cama
sem cobertor


afaga a dor, garoto
você não é mais menino que não entende o doer
sabe que dos beijos nascem cânceres
sabe do que é capaz, tu, e somente tu
do que é capaz de fazer crescer


portanto
pouse a vassoura
desligue esse café
feche essa boca
e os olhos
e morra um pouco


chega de vida, agora
chega de comunhão
reste um minuto, eu me peço
reste um segundo, que seja, sem outra opção
que não seja esta
a do morrer.


faça-se durar
faça-se quieto
repleto
incapaz de gemer
incapaz de socializar


se quiseres
pode abrir um ou outro olho
nunca os dois
um ou outro
e o mundo ver
o mundo averiguar
sempre calmo
sempre preciso
ver o mundo tem que ser devagar
tem muita coisa
muita gente
muita cor
muito tiro
muita corrida
muito sol
e dentro de casa
o cobertor.


abra os olhos
em separado
e mire primeiro esse buraco imenso
na pele
mire
fique nele
nele se ambiente
e permaneça
não saia jamais
tenha nela crença
tenha fé
na sua dor
obediência


porque há de sanar
há de suprir o grito
há de em silêncio
mais outra e uma vez
se curar.


não mais poesia
nem mais verso
vire a estrofe o travesseiro
vire a rima o soco de protesto
rumo aos despertadores que atormentam
a sua vontade de quedar.


quede.

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