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domingo, 23 de agosto de 2009

serra

mais alto mais frio
sinto na espinha
traduzir não é preciso
mais dentro mais quente
sinto aqui na mão
o teu corpo, saliente.

eu voltei.
eu cheguei de volta
de novo eu aportei

e o que pode haver de mais novo
o que pode haver de imprevisto?

eu te olho você me olha
eu em sonho te absurdizo
eu te absurdo em posições
impossíveis
mas sinceras
se tem uma coisa que nos marca
é a sinceridade exarcebada
você falou

acho que chega.
eu disse, acha?
você falou não, chega de verdade
eu disse ainda é inverno
você disse vai passar
eu quis saber passar o quê
isso entre eu e você, falou
eu fiquei pensando que era inverno eu pensando que o inverno passaria mas não
vai passar como se nada tivesse havido
vai passar como brinquedo do menino, substituido pelo novo
substituído de novo pelo novo de novo pela novidade que sempre, perdão, mas seduz o menino
sim, somos seduzíveis
sim, vocês são
pelas coisas mais mortais, falei
por elas vocês se abandonam, em vão, falou
eu vão fiquei

como podia ser assim tão pouco compartilhada?
como podia ser assim tão independente
tão sempre armada?

olhei de novo
olhei nos olhos
eram olhos meio cheios meio ocos
não saberia dizer, mas no olhar eu previ
eu previ o que iria acontecer

disse para mim mesmo
serás amante para toda a eternidade
serás amante para toda a eternidade

e me virei confuso
saí batendo os tamancos
ela ficou parada
provavelmente
logo depois se dispersando

afeto!
porque duras?
porque me aprisiona?
porque és meu e sequer me obedece?
quero logo que tu morras
para suprir teu desespero por outra agonia
outra que seja nova
outra qualquer na esquina

eu me seduzo fácil pela novidade
e hoje estamos tão inventivos
eu não devo ficar só até muito tarde
daqui a pouco algo vai surgir
eu sinto eu sei eu sinto

vai surgir
e quando o for
eu saberei
ela tinha razão
passou como tinha que ser

passou porque eu soube deixar passar
a dor não é só minha
ela é maior
ela é do mundo.
.

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