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sexta-feira, 8 de abril de 2022

Soltura

Haveria alguma importância nisso. Naquele instante, porém, ele nada via. Não porque tivesse a vista embaçada, não porque não quisesse ver, mas somente porque seu corpo estava ocupado com outras garras. Garras. Ganchos. Sentía um empuxo, uma puxada. Palavras estranhas. O que sentia era mesmo aquilo, algo fundo e indo, algo abrupto mas lento, e sempre dentro, dentro, bem no dentro onde ele não tinha vista capaz de enxergar coisa alguma exceto um breve lamento. E repetia a si mesmo. Lamentava. Lamentava. Estava chato. Sabia disso. Isso ele em si enxergava. Chato como quem tinha colado à vista um pouco ou quase nada de nada. Haveria importância aquele momento ali ainda tão distante. Quando ele pudesse se desprender da lamentável lamentação de si mesmo, aí sim, aí se sentiria mais solto e na soltura que lhe viesse viriam também outras paisagens. 

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