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domingo, 8 de março de 2015

Hábito

O mais assustador
foi quando se viu parado
no centro de uma vasta avenida
e percebeu
que o susto de ali estar
era apenas por nunca
ali ter estado.

Voltou à calçada
e sentiu-se em casa
mas seguiu caminhando
e mirando - seduzido -
o centro do longo
e retinto asfalto.

Parou, de súbito
sempre, de súbito
Parou e mirou a avenida:
era noite
era ele apenas
era agora

e voltou
ao centro da avenida.

Fechou os olhos para a madrugada.

Quis morrer, caso viesse um ônibus
uma moto um táxi
Quis morrer, tranquilo
porque o susto não era bem a morte
mas sim o fato
de nunca
ter-se permitido partir
sem nada antes dizer

e abriu os olhos

Silêncio total
ninguém passou
nem sequer um pombo

E, novamente, tomado de susto
constatou:

apenas me assusto porque nada disso eu antes havia sentido.

E voltou caminhando para casa
certo de que o seu hábito de mundo
era o único responsável
pela sua incapacidade em lidar
com o desconhecido.

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