não consigo partir, disse o menino olhando a tela arranhada
não consigo, não posso, nem quero, refez a rima
no olhar, as ondas iam e vinham
e do outro lado
ela não percebia nada
sua voz em bytes
sua pele em pixels
nosso amor renderizado
nosso amor em zip
em mov em jpeg
não consigo ficar, disse a menina olhando para ele de dentro da tela já embaçada
não consigo, não posso, nem quero ser alvo da mentira
no olhar, em fade foi sumindo
primeiro a pupila
depois a retina
depois sumiu o resto
o rosto
sumiram-se todas as rimas e ele
persistente
gritou!
não consigo partir, não consigo o amor
a conexão não tinha caído
a velocidade era a maior desde então
era só que ela lá e ele aqui
não conseguiam ser de fato união
e cansaram da vitória dos que estão longe e se amam
cansaram dos telefonemas, de gozar junto, mas à distância
e cansaram de imaginar
tinham a cabeça pesada
os sonhos confusos
a realidade inexata
não viviam de fato a vida tal qual ela era.
a vida tal qual ela era, não era algo que se devesse viver:
ela saiu do quarto e desceu as escadas
ele chorou copiosamente e sentou-se à cama
e então veio o tempo
e ela chegou ao térreo
e ele parou de chorar
prontos, para começar tudo de novo.
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