Ano passado, há quase um ano, eu cruzava este céu, tomado de dúvidas e ansiedades. Ia em direção ao mesmo destino, mas ia cheio de dor, querendo que o avião caísse de verdade.
Eu poderia chorar agora. Mas não é o caso. Um sorriso, que não faz contraponto ao possível choro, ele me invade o rosto bem lentamente. Eu poderia chorar, mas hoje só consigo mesmo é mirar a janela e contemplar a calma de meus ombros, antes, tão chateados.
Faz um ano, mais ou menos, eu me desfigurei por inteiro. Eu era sem estar, eu vagava sem andar, eu sorria sem nada amar. Faz um ano eu estava provisório. Sem rumo, sem sono, sem sequer força para me terminar.
Só desejo em imagens. Querer cair, querer morrer, querer sumir. Eu quis, faz um ano, me esquecer de mim, para assim não lembrar daquilo que tanto me machucava sem matar.
Hoje cruzo o céu novamente. Volto a este outro lugar para abraçar os amigos e trabalhar e amar a possibilidade, que o insondável me concedeu, de estar vivo sendo espaço para inscrição do que vier.
Se estou melhor, mais feliz, menos querendo cair, não importa porque as doses todas vivem juntas e coexistem aqui. Neste instante, eu me emociono não com a dor que me possa chegar, mas com a possibilidade de doer, e de abrir o peito e me estrepar. Eu me emociono ao ouvir essa música que o tempo me deu, me tirou e me fez voltar a cantar.
Sutilmente, já anoitece, mas lá fora tudo ainda é azul. Seria aqui dentro onde nasce a cor? Está no meu olhar? Como foi possível enxergar aquilo, que antes, eu não podia ver?
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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016
Sem Hoje Querer Cair
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