Meninos e meninas ---
Vosso pai, que vos escreve, precisa romper a manhã tal qual ela se anuncia para lhes dizer afirmações roucas, porém já amadurecidas. Vosso pai está muitíssimo chateado vendo-os tentar, a qualquer custo, chamar atenção daquele que papai elegeu como amor para sua própria vida. Atenção: nunca, nunca mesmo, vocês foram tão ousados querendo roubar minha atenção. Peço desculpas aos mais novos - mas é sobretudo a vocês, seus moleques, a quem escrevo -, mas não considero prudente falar em cuidado quando em vocês ainda falta tanta doçura.
Os assuntos do amor, do coração, os assuntos que gastam a alma e o corpo de vosso pai, neste momento, pertencem a mim, não a vocês. Eu sei, eu compreendo - não é a primeira vez - eu compreendo que aquilo que eu esteja sentindo possa lhes ferir, lhes convidar ao embate, mas não! É preciso haver um limite entre aquilo que eu sinto/sou e aquilo que vocês especulam e expressam. A vida não é mero recreio de verbos. Da forma como vocês estão se comportando eu posso acabar agindo aquilo que nunca fiz em todo o nosso encontro.
Entendam como quiserem (de fato, estou um tanto chateado), mas entendam, sobretudo, como aquilo que é: esta carta matinal é para lhes informar que não, não vou tolerar seus volteios movidos a ciúmes. Não vou tolerar que tatuem em vossos corpos a palavra "amor", de forma assim, tão impune. Não pode. Aqui não vai poder. Muito cuidado com o sorriso que me abrem porque nem sempre vosso pai o vai compreender.
Por fim, preciso acrescentar: não há volta, estou perdido e sossegado. Portanto, quanto antes vocês me compreenderem como aquele que agora eu sou, de fato, quanto antes fizerem isso, melhor para a harmonia de nossa casa. Prometo pintar outras tintas, desde que vocês me prometam não brincar tanto com a minha sorte nem com aquela de quem amo.
Em breve eu resolvo tudo isso e marco um encontro, entre todos, para que possamos nos reconhecer. Vocês nascem por conta disso. E eu, mesmo amando, vivo um tanto só por causa de vocês, meus meninos.
Tenham um bom dia e - percebam - o sol está vindo.
O sol está vindo.
Do seu pai,
Diogo Liberano
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