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sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Seu nome era Rita


Era, porque
Jogou-se do alto do prédio que um dia o pai
Construiu e assim
Morreu.

Mas o pai também morreu
Junto com a mãe
Um pouco antes de Rita
Morrer.

Os pais não sabiam que ela ia se matar.
Porque eles morreram antes.
E ela não fez carta de suicídio
Não tinha paciência para escrever.

Ela não fez o seu currículo
E logo não o distribuiu em loja alguma
Conseguiu um emprego numa
Lanchonete
Dizia que queria a cozinha
Mas só conseguiu o trabalho de
Entregadora
De caixa de pizza.

Era lerda, coitadinha.
E mesmo assim era quem ia
Da lanchonete até a casa
Do comprador
Da compradora
Até se fosse de sua vizinha
O atraso aconteceria.

Rita também era Pedreira
Desde criança foi chamada assim
O pai era pedreiro e criança é literal
Viu o pai com um tijolo
Achou que a filha era igual.

Rita Pedreira virou nome.
Era assim chamada
Gritada
Vaiada
Involuntariamente alguém que não se dominava
A culpa era dos outros, coitada.

Porque Rita era mulher do bem.
Tinha lá suas calmas
Seus tempos e medidas acertados
Eram menores, sabe-se bem,
Do que o normal,
Mas isso era normal,
Se bem que só para ela,
Tudo bem.

Rita Pedreira aceitou-se como pedra!
De tanto ser vaiada, gritada, espremida e modulada
Virou a pedra que todo dia estava parada
No meio dos caminhos
Atrapalhando o percurso de uma gente que corria
Corria tanto
Que a fazia enjoada.

Rita, coitada, estava cansada.
Não de correr, não de varrer, nem mesmo do cheiro da pizza
Que já a impregnava.

Rita estava cansada
Era de ser pedra!
Ora essa, ela mesmo dizia
Chega uma hora que a gente fala
Eu tô cansada!
E resmungava um Ah! interminável...

Rita um dia foi fazer uma entrega
Estava transtornada
Saudade dos pais
Cansaço existencial,
Não sabia que era esse o nome,
Mas era o que sentia
Cansaço,
Quase uma preguiça
De ter que curar tudo o estragado em sua vida.

De ter que buscar no passado,
Tudo o esquecido
Tudo que desmentisse
O que diziam que era ela
Assim, uma pedra.

Acontece,
Que por força do destino
Ou por vontade do senhor Jesus, que Rita lá não acreditava muito
Então
Em virtude dessas virtudes
Enfim
Rita acabou-se por ser o que se não era:
Uma pedra.


Pensou, pensou, refletiu, chorou, gritou
Tudo isso no dia em que esbravejava sem ser escutada
Pois subira no topo do prédio
que um dia o pai preenchera de argamassa.

E lá no alto, concluiu
Rita Pedreira Desafortunada
Que pedra não chora
Que pedra não fala
Que pedra, pode ser
No máximo, bancada.
Que pedra, na pior das hipóteses
- a dela -,
só poderia ser jogada, arremessada...

E assim jogou-se do prédio alto,
Louca para espatifar-se em mil pedaços
Deixou nos instantes seguintes ao pular
De ser Rita Pedreira
Pois não conseguiram reunir todos os seus pedaços
- escreveram os jornais -, na tentativa de encobrir o fato
de ninguém os ter procurado.


2 comentários:

Unknown disse...

TE AMO EM EXCESSO!

Caio Riscado disse...

Rita, a dos pecados.
em formato de verso fica bem mais interessante;
falei.

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