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terça-feira, 24 de setembro de 2019

Entrevisto

Por que poesia?
Para escrever imagens e sensações mais próximas do que, por vezes, sinto e não consigo compreender.

Poesia para compreender?
Não, na verdade, poesia para desistir de entender.

Sente-se especial por ser poeta?
Não precisaria ser chamado de poeta. Não seria necessário chamar o que escrevo de poesia. Independente dos nomes, o que escrevo segue agindo.

Em você?
Em quem quiser ler.

Você lê o que você próprio escreve?
E na dor lida me sinto bem.

Qual dor?
Só a que eu não tive.

Não compreendo.
Paciência.

Pretende publicar um livro de poemas?
Não tenho dinheiro para isso.

E se tivesse?
Compraria um sofá e um ar-condicionado.

Sinto que nossa conversa está indo de mal a pior.
Foi uma pergunta?

Quando entrevisto alguém, busco conduzir a conversa para que a pessoa entrevistada revele o seu olhar sobre os assuntos conversados.
E?

Quero dizer que o seu olhar é meio inerte. Considera-se alguém presunçoso?
Sem dúvida.

E?
E o quê? Era para eu me sentir mal por ser presunçoso, pretensioso, metido à besta?

De forma alguma.
Pois eis algo revelador. Somos quem somos. Não perca tempo fingindo ser bacana. Isso talvez sequer exista.

Talvez em poesia exista. Não acha?
Por isso escrevo. Para fazer as pazes entre quem de fato sou e quem me exigiram ser.

Quem te exigiu ser quem quer que seja?
Papo chato esse.

Era para ser divertido?
No mínimo, bom seria se fosse interessante.

Diga-nos algo interessante.
Me recuso a ser interessante.

Mas exige isso dos outros?
Exijo.

E quando o seu desejo não é contemplado?
Peço mais uma cerveja e fumo outro cigarro.

Ótimo, ótimo...
Não é?

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