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Marcelo – Querido Diogo, o ano passou e a gente pouco se encontrou novamente. Mas, a seu convite, já abrimos este novo ano – o 2012 – com uma entrevista, ou se preferir, com uma conversa entre amigos.
Diogo – Prefiro conversa entre amigos, Marcelo.
Marcelo – Eu imaginei. Pois então vamos começar. Como foi de virada?
Diogo – Levei um tombo ontem, Marcelo. Machuquei os dois dedões. Perdi a pele das duas solas. Tô meio que de cama. Passei a virada do ano dentro de casa, me embebedando e comendo damascos.
Marcelo – Esteve acompanhado?
Diogo – Claro. Estive com a família. Nessa época do ano, eu me junto a família. É a única fase do ano que eu consigo estar com eles.
Marcelo – O resto do ano você está trabalhando?
Diogo – Também.
Marcelo – Você quer me dizer que passou o fim do ano trabalhando?
Diogo – Eu diria que não paro de trabalhar nunca.
Marcelo – Você está querendo bancar um cara especial que é super responsável e super trabalha?
Diogo – Não, isso é você quem está dizendo.
Marcelo – Eu quis dizer: você não está de férias?
Diogo – Estou. Claro que estou. Uns quinze dias fora do Rio de Janeiro, onde moro, é o mesmo que férias. A questão é sair do Rio, para se livrar um pouco daquela correria que virou a minha vida.
Marcelo – E agora com uma relativa calma, você segue trabalhando?
Diogo – Sim. Escrevendo, pensando, planejando os próximos passos, revendo as coisas que aconteceram e foram conquistadas no ano passado.
Marcelo – Esse é um bom assunto. Como foi seu ano e como você espera que seja este novo que se inicia?
Diogo – Eu tive um ano muito especial. Foi de fato muito bom. Sobretudo em termos profissionais. Estive envolvido em muitos projetos e todos se transformaram em coisas que eu adoro. Também tive uma sensação muito boa quanto aos amigos, uma certeza muito límpida – é isso, límpida – do valor que a amizade tem e propaga. Enfim, foi também o ano da minha formatura na graduação de Artes Cênicas na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Marcelo – Você se formou, Diogo? Agora você é um diretor teatral?
Diogo – (risos) Eu acho que eu já era. Mas agora eu sou um diretor teatral com diploma.
Marcelo – Como é uma formatura em Direção Teatral? Como foi sua conclusão?
Diogo – É uma graduação, no mínimo quatro anos de dedicação. Eu estendi um pouco e fiz em seis anos. Eu pensei ter te convidado para o meu espetáculo de formatura. A nossa formação prevê que o aluno faça três exercícios de direção. Eu te convidei, não?
Marcelo – Não que eu me lembre...
Diogo – Devo ter mandando e-mail. Foi tudo tão corrido.
Marcelo – Sempre é...
Diogo – Pois é...
Marcelo – E o que mais?
Diogo – Mais o quê?
Marcelo – Conta alguma coisa especial.
Diogo – Marcelo, eu fico me sentindo um mico de circo quando você me entrevista.
Marcelo – É bom conversar com você.
Diogo – Por quê?
Marcelo – Você está me fazendo uma pergunta?
Diogo – Sim. Não posso? Mudar os papéis. Vamos?
Marcelo – Sim. Sim. Podemos mudar.
Diogo – Então se apresente. Quantos anos?
Marcelo – Eu sou um pouco tímido. Eu acho.
Diogo – Eu perguntei quantos anos você tem.
Marcelo – Tenho 26. Graduado em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná. Moro no Rio de Janeiro faz quase dois anos.
Diogo – Você veio morar aqui para trabalho?
Marcelo – Sim, você sabe. Vim para trabalho e por conta de uma bolsa que consegui no mestrado que termino em breve.
Diogo – Então você está terminando o seu mestrado?
Marcelo – Sim. Pensei que você soubesse.
Diogo – Sei que as nossas conversas servem para a sua tese, mas não sei mais que isso. Conte-nos.
Marcelo – Pois é. Defendo a tese em breve. Ela se propõe a identificar e refletir vias comunicacionais distintas que têm surgido nas últimas décadas, sobretudo as décadas de 1990 e 2000.
Diogo – E no que eu te sirvo nisso?
Marcelo – Bom. Quando nos conhecemos, eu senti que havia um esforço seu de repensar, eu acho que posso dizer um esforço para reformular uma lógica comunicacional via seu trabalho.
Diogo – Você foi assistir NÃO DOIS, em junho de 2010, não foi?
Marcelo – Exato. Fui por acidente. Tinha chegado ao Rio não fazia nem mesmo um mês. Estava procurando algo para fazer e calhei de assistir a sua peça. Ali nos apresentamos e tempos depois nós viemos a ter uma primeira reunião ou encontro, como você preferir.
Diogo – Eu prefiro encontro. Mas repito a pergunta: no que esses encontros ou entrevistas servem para a sua tese?
Marcelo – Justamente. Nossas conversas evidenciam, sobretudo pela sua fala, uma maneira outra de lidar com a comunicação. Você parece partir sempre de uma comunicação zerada. Esse é um conceito que estou desenvolvendo na tese.
Diogo – Meu deus, as pessoas inventam coisas umas em cima das outras.
Marcelo – Você é uma dessas pessoas.
Diogo – Eu sei. Assim como você.
Marcelo – Pois então. Eu digo comunicação zerada para desenhar uma lógica interessante que tenho observado no trabalho de alguns artistas de teatro, sobretudo. Quero dizer: a comunicação que se pretende criar no encontro da obra, do espetáculo com a audiência, o seu público, ela não está dada desde o início. Ela começa zerada e vai se construindo. Mais que contar uma história, que encenar um acontecimento, tenho observado como algumas obras são, em si mesmo, certo processo de construção da comunicação. Poderíamos dizer de reconstrução da lógica comunicativa.
Diogo – Meu deus, isso parece interessante. Você pode citar exemplos dessas peças?
Marcelo – Prefiro te convidar para a apresentação da minha tese. Espero conseguir transformá-la em livro. Acho que seria uma reflexão interessante de se trazer a discussão e a prática.
Diogo – Sobretudo quando as pessoas não têm consciência dos desdobramentos de suas apostas estéticas.
Marcelo – Mas você tem essa consciência, não tem?
Diogo – Mesmo que eu diga sim. Ou que eu diga não. Isso não te impediu de acreditar que eu tivesse.
Marcelo – Eis o dilema. A consciência.
Diogo – E a falta dela.
Marcelo – Creio que tenhamos nos alongado demais. Vamos para as últimas palavras? (Diogo faz que sim com a cabeça) Quais os projetos para este ano, Diogo?
Diogo – Sim. Os projetos. Há pelo menos duas peças sendo gestadas e que devem estrear ainda esse ano. Fora as novas, há duas peças do Inominável\
Marcelo – Teatro Inominável é a sua companhia?
Diogo – Digamos que sim. Não é minha. É a companhia da qual faço parte. Enfim. Estamos juntos faz um tempo e temos em nosso arsenal quatro espetáculo. Neste ano, queremos dar um gás em pelo menos dois: COMO CAVALGAR UM DRAGÃO, que você assistiu e SINFONIA SONHO, que você ainda não viu.
Marcelo – Ouvi várias coisas sobre essa peça.
Diogo – Eu também ouvi.
Marcelo – (risos) Você não existe.
Diogo – (risos) Nem você.
Marcelo – Prometo voltar o quanto antes, mesmo que você se esqueça de mim.
Diogo – Prometo recebê-lo a hora que for. Gosto muito de nossas conversas.
Marcelo – Então uma última pergunta: por que você gosta de nossas conversas?
Diogo – Porque pelas nossas conversas desbravamos a possibilidade que é o encontro. Multiplicamos a potência do entre-dois e a propagamos. Não que isso seja incrível. Mas é também por isso que talvez possa ser único, incrível, especial. Eu gosto de nossas conversas porque dentro delas há uma força dizendo por que isso não poderia vir a ser? Compreende? (Marcelo faz que sim com a cabeça) Não tente compreender. Está para além disso. Ficou pesado? (Marcelo dá um pequeno sorriso) Eu fico te aguardando, meu amigo. Bom início.
Perguntas Que Marcelo Faria volta no decorrer do ano,
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Um comentário:
____tive uma sensação muito boa quanto aos amigos, uma certeza muito límpida – é isso, límpida – do valor que a amizade tem e propaga.
:) a resposta mais bonita.
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