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domingo, 15 de janeiro de 2012

eu turvo

por favor,
me deixe me dar licença
não quero mais ficar
eu preciso sair
eu preciso sair um pouco
dar uma volta
fazer como dizia a minha mãe
arejar a cabeça
eu preciso
não posso mais aguentar.

o que é isso?
como posso ser tão assim?
como posso ir entrando o mundo
cortando seus chãos
saturando seu ar
com meu suor
e consumo?
eu quero ausência
não de mim - impossível
mas desse jogo
não quero mais
estou bêbado
intragável
fiquei rouco
e inda assim
tudo parece
sempre pouco.

vejam os versos
aqui reunidos
vejam os versos!
como podem
confiar em mim?
esses filhos que escrevo
o que são, para além de filhos
seriam também escravos?
serei eu alguém assim tão impositor
serei fascista?
serei capa de revista?
o que serei eu
se não posso ser
o que desejo
e sempre me vejo
refletido
e no reflexo
me observo
e constato:
o que eu sou se perdeu faz tempo de mim.

meu pai do céu
meu pai da terra
intervenha!
me arranque a força
me torne cego e burro
para que eu não dialogue
mais
sobre possibilidades
sobre "n"
nem porquês
eu estou doente
eu mais uma vez
não me posso reconhecer
e quando isso chega
quando acontece
este segundo
tudo fica turvo
e eu me perco
na minha
insatisfação
generalizada

nada serve
nada servirá
ou eu me atropelo
ou eu me lanço pela sacada
mas eu sei
que isso
enfim
não resolveria nada.
     

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