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terça-feira, 3 de junho de 2008

1 dois

Ela pegou o regador
e durante toda a tarde
enfim
o vaso com a planta
regou.

Ele pegou a colher
e durante toda a tarde
enfim
na panela quente
misturou.

Ela impôs seu amor
e molhando além chuva
aquele pé de uva
ou pé de pêssego
ou pé de desejo
enfim
ela molhou até o fim.

Ele mexeu até não parar
e mexendo a colher ali dentro
fez a sopa esquentar
fez o ponto chegar
o bolo não solar
fez enfim
um manjar.

E então precisaram dar tempo.

30 minutos.
1 dia apenas
apenas 1 momento.

E a uva nasceu
não sei se pêssego
ou amora
ou se amor.

E o manjar nasceu
não sei se duro
meio mole
feito mingau
liquidificador.

E quando ele a chamou
Ela veio cheia de terra molhada
Ele disse

Lave as mãos!
Ela disse

Você sabe fazer?
Ele disse

O manjar está pronto!
Ela disse

Doce de pêssego?
Ele disse

Quer provar?
Ela enfim

Sentou-se
limpou as mãos no colo do próprio vestido
e degustou aquele manjar
como se fosse ele
o fim
e o princípio

de tudo
de todo aquele amor
de cada gosto
gosto bom,
também é dor

Ele se sentou ao seu lado
as mãos sujas no tremer
E ela disse

Esse pêssego é pra você!

E comeram
Comeram
Comeram

Até nada mais restar sobre a mesa
Exceto os dois
Os dois
1 dois.

3 comentários:

Caio Riscado disse...

é que muito me emocionou ver assim, tão de perto, de onde nascem seus filhos, que cor tem suas incubadores e como eles ganham o céu. ocorreu-me o tocar leve de um coração criador.

ig.
=*

Caio Riscado disse...

digo:
incubadoras.

Anônimo disse...

gosto

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