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terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O Albergue

Custou o preço de um DVD, um filme duplo e cheio de extras num segundo cd. Custou pouco, penso eu agora. Esses momentos que vivemos e que nos damos conta somente depois. Pois bem, eu faço a conta das minhas experiências no momento riquíssimo de sua existência.

Ontem

É como se por um dia, sendo-se a si mesmo, não se fosse possível mais se ser. Não mais como eu era. Sim, os verbos e pronomes e nomes amontoam-se na tentativa de esclarecer o prazer inigualável de ser, ponto. Ser sem pressuposto, ser instintivo e absorto diante da vida social a qual foi lançado, entregue, drenado.

Neste albergue, olham-me pelo que sou, neste momento. Não há nada prévio afora o som do meu nome que eu adoro e que sequer é gritado, pois não me conhecem pelo que fui de mim. Há apenas na geladeira comunitária uma maça e um pote de chá, sobre os quais o grifo "Diogo D3", informa o dono a letra do quarto e o número da cama onde dorme um ser a mais.

Mas já é dia, a vida prossegue e café foi tomado. O banho aguarda sentado neste computador, também comunitário. A sensação de muitos corpos num só espaço, todos sedentos por um "de onde você é?", por um "hi!" e por todo o resto que eu não saberia descrever, pois palavras demais é não compreender.

Supermercado

Peguei três maças. Um pote de chá. Um pacote de biscoito para depois e um para o agora que já passou, contado nas mordidas e nos dedos lambidos. Segui para o albergue e se escrevo agora, é para vitalizar um momento que passa. No meio das compras, olhei para mim mesmo e disse, na autoritária voz que me sobe à cabeça, "Cara, você é o mais sem noção".

E se digo ser "o mais" não é por orgulho ou pretensão, posto que seja apenas pela solidão.

Hoje

Eu sou daqueles que aproveitam pouco o gama de acontecimentos. Sendo tudo tão vital, as coisas se movem de tal maneira descomunal sob meus olhos, que eu me perco rápido demais. E eu já não quero falar de nada exceto do que me faça se perder.

Quero falar do cheiro que ficou no ar, após você da janela saltar.

Não tenho referenciais. Minhas medidas são imprecisas, são as dos corpos que vem e não voltam mais. O que sei de mim e do mundo a todo momento se altera, trocando forma por conteúdo, desejos pelas fendas da incompreensão.

O que sei, vacila. E nisso, vivo eu a vacilar. Carregado de dúvidas que me lançam adiante, onde eu posso olhar para trás e perceber, "Cara, você é o mais sem noção, mesmo".

2 comentários:

Caio Riscado disse...

Nem sempre as coisas precisam ser comentadas.
este aqui, é só pra dizer que estou te lendo.prazeroso.

um albergue?
neu deus.
cuide-se ignacio.
=*

Caio Riscado disse...

especial, � saber que sou especial pra vc.

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