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sábado, 16 de fevereiro de 2008

Acometimentos

Sobre pontos que me fazem parar ou pontos nos quais eu paro, nem que seja para respirar.

Ônibus
Passaram-se cinco daqueles em que eu podia embarcar. Então, peguei justamente o que nunca havia entrado antes. Um ônibus com outro número, cujos passageiros tinham outras caras. Pois mal nele entrei e ele já partiu. Balancei, oscilei, quase caí tentando tirar a carteira e somente parei quando seguro estava com uma das mãos num daqueles ferros imundos e deslizantes e carregados do óleo que o dia-a-dia dos corpos cria e, assim, próximo ao trocador a ele perguntei Passa na 28? e ele disse que sim, que ia reto, até o fim e logo em seguida, disse algo mais. Eu disse o quê? Ele disse algo mais, e eu disse o quê? E então cruzei a roleta e ele disse nada não. Tinha olhos de vidro, o tal trocador. E eu ali sentado, vim a viagem inteira pensando no que ele havia dito, sem acreditar que tivesse sido apenas um nada não.

Coca Zero
Era intervalo. Tinha 10 minutos até o início do segundo ato. Fui até a cafeteria, pois queria um café. Chegando lá, o preço do café não valia o seu tamanho. Ou seu tamanho não valesse o meu desejo. Então, optei por uma lata, gelada, de Coca-Zero, alucinado estava. Caminhei entre a multidão de platéias e contra-regras e cafezinhos e cigarros na mão, até que a placa antes da entrada me disse que eu não poderia entrar portando bebidas. Tudo bem, pensei. Eu prometo não derrubar no chão. Além do mais, não porto nada. Abri a mochila e joguei a gelata dentro. Sentei-me na poltrona, abri com o devido cuidado o recipiente. Alguém ouviu? Não importava, a luz sequer tinha se apagado para o inicio do segundo ato e a lata já era apenas uma lata qualquer, de volta à mochila, vazia, seca. Antes de em mim o prazer esmaecer, pude ouvir uma velha resmungar, como, se aquele rapaz ali acabou de tomar? Alguém viu?

Tiros
Escrever me surpreende porque nunca se sabe ao certo o que virá a sua mente. Nunca se sabe como o mundo reagirá no exato instante que você o recria sob palavras e rimas imprecisas. Portanto, há poucos minutos quando escrevia um desses acometimentos, começei a ouvir tiros. Pensei, merda! E a janela aberta e eu aqui sem camisa, pronto para morrer sem pestanejar. Eu aqui diante de um computador e resignado com o rumo que a bala não mais perdida pudesse em mim encontrar. Então olho daqui para fora. E vejo nos tiros clarões. Apago a luz do quarto, bem sei que não preciso chamar atenção. Mas tenho pulsão de morte eu sei, por isso caminho até à janela, preciso ver a noite sangrar. Então, faço parar. Retorço-me rumo ao céu e vejo que nele fogos são feitos de tiro. Se são as pessoas cuja morte atingiu, não saberia dizer. Mas que sangravam vermelhos os fogos, isso assim eu pude ver. Justamente com esses olhos que a diabetes há de comer.

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