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sexta-feira, 18 de março de 2022

enquanto espero

sigo a escritura
Ela me diz
Não tenha medo 
eu continuo
Ela me pede
Olhos abertos
Venha, venha, venha de olhos bem abertos
eu obedeço

haveria em mim uma tal disponibilidade que mesmo em cansaço ousaria me surpreender

Ela me diz 
Não sabes o que é 
Fique então com o que poderia ser
eu sorrio
divirto-me com isso do vir a ser 
Ela me pede
Sem tantas certezas
Vamos, jogue-se

e de fato há em mim algum pertencer que me estaca no instante e ali eu sobrevivo 

Ele me conta
Sabes bem que nada disso dura muito
Ele me repete
Viver e morrer são apenas palavras duas para um mesmo rumo

em mim um escrito que não cessa, uma escrita que gasta as horas, uma escritura que me vaza da minha noção do que é meu, do que era mundo

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