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terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Mudo nas lamentações

A voz que fala já não diz nada.
Ela fala fala fala e apenas fala.
A voz que grita já nem treme.
Ela apenas grita e grita e grita.
Seria preciso refundar a fundação.
Seria preciso fazer de fato outro gesto.
As linhas aumentam e o silêncio é o mesmo.
Como faz?
Como ultrapassar o piche que caiu sobre o corpo?
Como romper o asfalto?
Como devolver às palavras seu poder de soco?
Tudo tão oco tão oco tudo tão sem nada.
Dizes e falas e contas e mesmo assim nada.
Gritas reclamas te manifestas e nada nada.
Seria preciso desistir do mundo talvez
desistir de tudo seria preciso talvez desistir
talvez das pessoas da esperança desistir desistir.
E aí talvez naquele instante irresoluto do susto
aí talvez pudesse você encontrar uma saída.
O problema é que todo o fora está dentro
dentro dentro dentro dessa merda toda.
Sigo mudo nas lamentações grito tanto
nada digo grito tanto por que mesmo?
Já não sei automático fiquei faltou pele
faltou toque faltou abrigo deu no que deu
o que deu foi isso foi isso.

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