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sábado, 18 de dezembro de 2021

Ao chão, de volta, com os pés, os dois, os dois pés de volta ao chão

Gaste o tempo que precisar, ele se diria. O tempo que precisar. Mesmo. Deixe doer o que for, no caso de ser dor. Deixe-se doer. Considere que horror tudo isto. Considere como a vida pode ser ingrata, ela pode, ela é, eventualmente, a vida faz algo como isto agora. Você, sem chão, você sem chão. Considere uma pergunta, talvez, apenas uma: por que você está sem chão? Ou ainda: onde você estava que agora se sente assim tão sem chão?

As perguntas podem te transformar. Elas podem te curar. Mesmo sem resposta, considere apenas a pergunta. Fique com ela.

Onde você estava que agora se sente assim tão sem chão?

Estavas, talvez, num plano outro de idealização?

Ao chão, de volta, com os pés, os dois, os dois pés de volta ao chão, você agora está. É tortuoso, parece que a vida morre um pouco, mas a morte em vida nunca é sempre o fim, nunca é somente algum padecer. As coisas têm fim, as coisas acabam sim. Seria preciso ouvir você se dizendo isso. Diga a si mesmo. Gaste o tempo que precisar. Amores morrem, pastas de dente acabam e mesmo esta mesa.

As palavras, no entanto, é estranho: elas continuam. Na falta da pasta de dentes, na falta do vinho, de um moço ou outro, na falta de um ou outro abrigo, saiba: haverá ainda assim um punhado de palavras. Palavras. Palavras. Palavras como sintoma, palavras como cura, como coça, como casa.

Haveria ele de perceber que a vida é apenas animadora de festa. A vida: animadora dessa festa para a qual não fomos convidados; festa das palavras.

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