Me deu vontade repentina de escrever a vocês todos. Não vou citar nomes porque são vocês. E isto não é um email. É uma postagem no meu blog que vocês sem dúvida alguma sequer conhecem. Há tanto de vocês aqui. Há o desenho turvo das burrices do irmão mais velho, há a dor de ver na mãe sempre o verso do mundo, em sua obstinada depressão. Há o amor, mãe. Há a falta e a impossibilidade – cada vez maior – de voltarmos a nos dar as mãos.
Eu fiquei difícil. Talvez seja um pedido de desculpas. Mesmo assim, temo, vocês não entenderiam. Os meus olhos abriram de um jeito que não há mais como não ver. Eu sei de tudo. Me desculpem. Eu não consigo deixar de ver. E se durmo, como na outra semana o fiz, sonho que a irmã mais nova me liga para informar a morte de todos os outros.
Cruzo os dias ciente de que a qualquer momento, a ligação que atravessará os céus me chegará apenas para informar mais uma morte. Eu me pertenci a vocês ao contrário. Desfiz o nosso laço em troca do quê? Eu não sei. Vocês não deveriam ter deixado de me ver como criança.
Eu cresci antes, mãe. Mas hoje percebo ter crescido porque você não me interpretou direito. Eu não sabia de nada. Mas, mãe, você deveria não ter acreditado em mim quando eu disse: quero ficar. E então você foi e me deixou ali crescendo, sob o domínio do meu próprio cuidado, eu definhei a um ponto que hoje não há – mesmo – conserto algum.
Hoje não há nada. Caminho com mãos soltas. Sem conseguir enlaçar meus próprios passos. Ouço as músicas leio os livros e a verdade é que nem isso me segura mais.
Quero ficar sólido de novo, mãe.
Mas aqui comigo, tudo vem solto como fosse cheiro.
A falta. A sensação de ter me despedido sem adeus. A certeza insuportável de ser diferente. E de saber que minha diferença não cabe no seu colo. Nem do meu pai. Que não me conhece. Nem em mim eu a aguento mais. Eu fiquei grande. E tô cansando desse projeto.
Cansado de me ser.
Mas ciente – de que só posso ser isso.
É mesmo tarde hoje a noite.
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